Continuação do post anterior
Intransigente quanto aos princípios
Dela também aprendi a
intransigência, pois ela a tinha muito. Sua irmã mais nova, chamada Zili,
costumava dizer que ela era uma “teimosa mansa”. Nunca ela era teimosa com
coisas pessoais, pois quando era algo de interesse próprio ela cedia com toda
facilidade. Porém, quando se tratava de defender um princípio, ela era
implacável!
Mestra da admiração ao próximo
Também ela me ensinou
o modo de admirar as pessoas. Era muito raro ela fazer um comentário malévolo
em relação a alguém. Criticar alguém por ter adotado uma posição revolucionária
era muito incomum; via-se que ela tomava atitude de descontentamento, mas só a
vi criticar alguém quando era para abrir meus olhos ao mal que essa pessoa
poderia me fazer.
Nobilitada pelos sofrimentos
Dentre todos esses
exemplos que via nela, o que mais estava acentuado era sua atitude diante da
dor.
Sua vida foi muito
cheia de sofrimentos. Já moça, tardou muito em se casar; o normal era que toda
moça se casasse, e cedo.
Ela temia que,
morrendo o pai dela, a vida da família toda mudasse e ela ficasse como uma
solteirona, o que naquele tempo era uma coisa inconcebível. Ela chegou a pensar
em ficar freira, mas ela não tinha verdadeira vocação religiosa. Meu avô disse
isso a ela, mas deixou-a livre para escolher. Mas a confiança que ela possuía
no pai fazia com que sua opinião fosse decisiva.
Após ter se casado,
durante muito tempo viveu entre a vida e morte, a tal ponto que teve que ir à
Alemanha para submeter-se a uma dolorosa e arriscadíssima operação. Diante de
todos os sofrimentos, ela aceitava a dor como sendo um fator que enobrece a
vida. Para ela, quem não sofreu não viveu, pois o normal da vida é sofrer, e
fazê-lo com paz, suavidade e ânimo. Ser derrotado nos acontecimentos da vida
não é nada se, dentro desses acontecimentos, se toma as atitudes que devia,
enfrentando-os sem se incomodar. A aceitação desses sofrimentos, de fato,
trouxe para ela uma extraordinária nobilitação, dando-lhe, no fim da vida, o
aspecto de uma matriarca sumamente venerável, respeitável e doce, que encantava
todos que a conheciam.
Perfeita contrarrevolucionária tendencial
Outro aspecto da
formação que recebi de Dona Lucilia é o seguinte: por causa dessa elevação de
alma dela, eu me dei conta de que se eu aceitasse qualquer dos postulados da
Revolução, que iam surgindo, eu tomaria, pela lógica que há nas coisas, uma
posição de alma contraria à elevação de espírito dela. Ainda quando se tratasse
de matérias, princípios e problemas que ela nem sequer conhecia. Mas a alma
dela era tal que, como que, vivia por cima de toda esta temática, e embora não
a conhecesse inteiramente, por eminência continha a Contra-Revolução.
Desta forma era
incompatível com aquela elevação que havia na alma dela quem aderisse à
Revolução; e mesmo quando se aceitasse somente algumas de suas teses, isso
pressupunha uma fratura com o estado de espírito de Dona Lucilia. Vista por
esse ângulo, a Contra-Revolução estava presente nela.
Esta elevação de
espírito que havia em Mamãe teve grande papel no fato de eu rejeitar as
tendências revolucionárias que surgiam.
No campo das ideias
nunca vi Mamãe aceitar uma posição revolucionária, mas ela não as compreendia
com toda a profundidade, mas tendencialmente Dona Lucilia foi profundamente
contrarrevolucionária.
Plinio Correa de
Oliveira – Extraído de conferência de 29/11/1981
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