Dona Lucilia, conquanto em nada descurasse as
prescrições médicas, nunca impunha um tratamento a quem tinha idade para se
governar a si próprio. Seu desvelo por seu filho não diminuíra, pelo contrário,
requintara-se ao longo dos anos, passando a representar para ele um autêntico
repouso e encorajador consolo, em meio à luta que ele conduzia pela ortodoxia
católica. Disso é ilustrativo o episódio seguinte:
Certo dia Dr. Plinio foi acometido por fortíssima
indisposição. Dona Lucilia percebeu imediatamente e com sua matizada voz lhe perguntou:
— Filhão, você está indisposto, não está?
A pergunta, muito afetuosa mas incisiva, deixava claro
que ela notara o estado dele e não adiantava esconder. Dr. Plinio respondeu com
aquela franqueza filial, contrário harmônico da suavidade materna dela:
— Meu bem, realmente estou indisposto, mas detesto
medicar-me. Eu não queria contar nada, a fim de evitar que a senhora insistisse
comigo para tomar remédios e — pior do que tudo — me recomendasse alguma dieta.
Por isso não quero dizer não à senhora, mas sobretudo não quero dizer sim...
A situação era bem difícil para Dona Luciia. Queria
ajudar o filho, porém, não desejava contrariá-lo. Mas nem por isso perdeu a calma.
Aproximou-se da cama dele e colocou a mão sobre sua fronte para verificar se
ele estava com febre.
Nesse pequeno gesto caseiro, já estava dado o primeiro
passo para a cura, pois o frescor de suas delicadas mãos transmitia uma benfazeja
serenidade, reflexo de sua paz de alma que nenhuma provação conseguia
conturbar.
Ela então lhe disse:
— Você está com febre.
Dr. Plinio certamente pensou: “Ela agora vai me pôr o
termômetro, e este vai indicar 38°C ou 39°C. Ficará preocupada e vou me meter
numa engrenagem que detesto...”
Dito e feito. Com seus pequenos mas ágeis passos, saiu
ela do quarto, voltando alguns instantes depois com o fatídico instrumento. Dr.
Plinio, para não a contrariar, colocou-o e, passado o tempo necessário,
controlado minuciosamente no relógio por Dona Lucilia, o devolveu a sua mãe. Na
penumbra do quarto, ela olhou, com certa dificuldade, a temperatura. Porém, em
vez de proferir uma sentença, como fazia quando ele era menino, apenas lhe
disse:
— Não é nada. O que você quer fazer, meu filho?
Afastada, para alívio dele, a tortura, respondeu:
— Meu bem, eu quero passar o tempo, deitado e quieto.
Dona Lucilia, então, trazendo uma cadeira do quarto
dela, colocou-se ao lado da cama do filho e pôs-se a rezar tranquilamente. Ficou
assim algumas horas, até chegar a noite. Em certo momento,
Dr. Plinio lhe disse:
— Meu bem, estou com muita fome e a senhora certamente
vai querer que eu coma algo.
— Diga o que você quer, que sua mãe lhe traz — foi a
pronta resposta dela.
Em seguida, ela mesma saiu a preparar o prato que seu
filho pedira. Levou a refeição ao quarto, fez questão de servi-lo e no fim
disse:
— De outras vezes não esconda nada a sua mãe, porque
ela percebe e não vai lhe impor nada.
A saúde que, a rogos de Nossa Senhora, a Providência
dera a Dr. Plinio, era excelente, e assim na manhã seguinte ele já estava bom.
Logo após se levantar, foi ao quarto de Dona Lucilia.
Ao vê-lo entrar, lhe perguntou:
— Filhão, como vai?
E a vida de todos os dias recomeçou.
Muitos e muitos anos mais tarde, Dr. Plinio, ao se
referir a este pequeno episódio, comentou que só quando sua mãe lhe fez o pedido
de nada esconder, percebeu como, para ela, aquele pequeno mal não era uma
bagatela. Se a doença se agravasse, Dona Lucilia cuidaria dele com extremos de
zelo, até o fim. E — concluiu Dr. Plinio — “é provável que, se eu morresse, ela
também morreria. Uma coisa é inteiramente certa: ela preferiria morrer a
continuar a viver”.
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