Com a morte de Dr. João Paulo,
acentuou-se para Dª Lucilia o normal isolamento que o avançar da idade traz
consigo. Desde jovem, ela previra essa eventualidade de ser incompreendida no
seu modo de ser e de pensar pelas gerações seguintes, em vista das
transformações que presenciava. Assim, não tinha qualquer ilusão. Notava que,
se a Providência lhe concedesse uma vida longa, o futuro se lhe apresentaria,
com o paulatino desaparecimento de seus contemporâneos, como uma lenta e
inexorável marcha para o anoitecer.
Fazendo lembrar certas flores, que
exalam o melhor de seu perfume quando esmagadas, Dª Lucilia se submetia com
doçura e suavidade à provação do isolamento, mais doloroso para ela devido à
sua grande comunicatividade.
Todavia, sua solidão não foi completa.
Desde a mocidade de seu filho, a consideração da afinidade de ambos foi para
ela um lenitivo, pois via na fidelidade dele aos mesmos princípios católicos
que ela amava, a promessa de uma companhia até os últimos dias.
Sendo a sensibilidade de uma senhora
naturalmente mais refinada que a do homem, formara Dr. Plinio, em certo
momento, o propósito de amenizar esse isolamento de Dª Lucilia. Redobrou suas
expansões de carinho para com ela, que bem discernia essa intenção de seu filho
e, por isso, não perdia oportunidade de lhe manifestar gratidão.
Certo dia, ao sair do quarto,
encontrou-o no corredor, junto à porta do hall. Parou diante dele, pôs-lhe as mãos
sobre os ombros, e fixando-o no fundo do olhar disse:
— Filhão, só tenho a você, mas a você
eu tenho inteiramente.
Ao se recordar dessa cena, anos mais
tarde, Dr. Plinio comentaria:
“Tais palavras me ficaram no espírito para
sempre. Tendo ela dito isto, eu nada respondi, pois não existem palavras
capazes de exprimir os próprios sentimentos em situações como esta. Eu só a
beijei e abracei, como sempre fiz. Mas posso tranqüilamente dizer que ela me
tinha mesmo, e por inteiro!”
Transcrito da obra “Dona Lucilia”, de Mons.
João S. Clá Dias
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