Dr. Plinio não perdia ocasião para
retribuir o afeto de sua mãe. Isto compensava, de alguma forma, as ausências
impostas por suas obrigações e, sobretudo, a aliviava do isolamento. Muitas
vezes externava este reconhecimento por amenos gracejos: o invólucro de um dito
espirituoso dava maior alcance aos seus filiais sentimentos.
Dª Gabriela, mãe de Dona Lucilia |
Certa ocasião, estando Dª Lucilia no
“Salão Azul”, sentada ao lado do “filhão” em agradável conversa, ele lhe
perguntou, referindo-se ao quadro de Dª Gabriela:
— Mamãe, quem é aquela senhora que está
naquele quadro?
Dona Lucilia, estranhando a pergunta,
respondeu num tom de voz que denotava ligeira surpresa:
— Meu filho... aquela é mamãe...
— Pois, olhe, minha mãe é muito melhor
que a sua!
Dona Lucilia, um pouco desconcertada
diante de um elogio que a colocava acima de sua própria mãe, a quem muito
admirava, não tendo o que responder, tocando com a ponta dos dedos suavemente
na mão de Dr. Plinio, como era seu hábito, apenas lhe disse:
— Ora!... meu filho, meu filho...
Quando muito elogiada por ele, Dª
Lucilia alegava serem exagerados seus ditos, por não merecer tanto. Ele
brincava então, e lhe chamava “Madame
Merece Mais”, não permitindo que ela vencesse a carinhosa disputa. Dava-lhe a
entender desse modo o quanto seus louvores ficavam sempre aquém da realidade.Um
dia ele lhe perguntou com uma pontinha de afetuosa ironia:
— Mamãe, eu sou o filho que a senhora
esperava? Sem aguardar resposta, continuou:
— De fato, a senhora gostaria que eu
fosse um advogado brilhante, com barba longa...
Era o tipo humano do homem
bem-apessoado do tempo do pai dela, Dr. Antônio.
— Pois bem — concluiu ele — a senhora
acabou tendo um filho polemista!
Na intimidade, Dr. Plinio não poupava
elogios nem manifestações de carinho à sua mãe, deixando-a por vezes
enternecida. Era nessas ocasiões que, imitando sotaque português, Dr. João
Paulo dizia a ela, gracejando:
— Não te derretas!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário