Continuação do post anterior
Pouco depois de nossa
Primeira Comunhão, terminado o curso de catecismo, o meu vínculo estreito com
mamãe me ajudaria a discernir outras riquezas da Igreja Católica. Eu ia com ela
às Missas de domingo na Igreja do Coração de Jesus e, sentado ao seu lado, me
punha a analisar o ambiente do edifício sagrado, e o conjunto que seus diversos
aspectos formava com os ritos e simbolismos da celebração litúrgica. Então,
considerava o som do órgão, do sino que tocava para anunciar a entrada do
padre, as expressões de fisionomia desta ou daquela imagem, tal paramento, tal
gesto, tal vitral que me parecia muito bonito — de tudo aquilo resultava uma
soma, uma unidade incomparavelmente mais bela e preciosa do que a soma das
pessoas ali reunidas.
De tal maneira que,
quando aquelas pessoas saíam e o templo se esvaziava, essa riqueza do ambiente
permanecia inalterada até a Missa seguinte, quando outros fiéis ocupariam
aqueles espaços e encontrariam aqueles mesmos e precisos aspectos dispostos
para a contemplação deles.
Na minha mente de
menino formava-se a idéia — incipiente e confusa como só podia sê-lo na cabeça
de uma criança — de que se tratava de uma graça do Divino Espírito Santo a
pairar naquele ambiente, e que agia na alma das pessoas, levando-as a
compreender e a amar as belezas da Igreja. Daí, também, a noção do sagrado do
templo católico, casa de Deus, onde se entra para adorá-Lo.
“Querendo bem à Igreja, queria bem à mamãe”
A concepção artística
do interior da Igreja do Coração de Jesus é muito própria a despertar essas
impressões. Por exemplo, do banco onde mamãe e eu costumávamos ficar, podia-se
ver a imagem do Sagrado Coração de Jesus, na nave esquerda, e a imagem de Nossa
Senhora Auxiliadora, do lado direito. Eu considerava aquelas imagens, que
sempre me tocaram, analisava as decorações em volta, as pinturas que
representam cenas bíblicas, as outras imagens de santos e, sentindo também a
presença de mamãe, pensava: “Como ela se harmoniza tanto com todo esse ambiente!
Como tudo isso penetra na sua alma e faz um com ela! Querendo bem a ela, quero
bem a isso. Mas também, querendo bem a isso, quero bem a ela!”
Embora eu não
conhecesse o conceito de “reversibilidade”, na minha cabeça estava a idéia de
que havia uma analogia, uma certa semelhança, uma como que reversibilidade
entre a Igreja e mamãe.
Cumpre dizer que a
Igreja me impressionava incomparavelmente mais do que mamãe. E se é verdade que
o convívio com Dona Lucilia me ajudou a compreender a Igreja, mais ainda a
Igreja me ajudou a amar mamãe, porque eu a amei por ser ela um reflexo daquela
Igreja à qual eu devotei minha vida inteira. Se quis tanto bem a mamãe, foi
porque percebi na sua alma um reluzimento da mesma graça que pairava na Igreja
do Coração de Jesus.
Lógica e coerente, como o lado racional da religião
Essa ideia da
reversibilidade entre o espírito de mamãe e a Igreja se acentuou ainda mais
quando comecei a frequentar o Colégio São Luís e, neste, além do contato mais
assíduo com as práticas de piedade, fui conhecendo, pelos ensinamentos dos
padres jesuítas, o lado racional da religião.
Como sempre tive
particular apreço pela lógica, de um lado, e, de outro, como os jesuítas
raciocinavam muito bem, diante de todo raciocínio bem feito por eles eu me
extasiava: “Isso está direito, concatenado, é assim que se raciocina!”. E
através daqueles ensinamentos, eu admirava o pensamento sério da Igreja que
chega às últimas conseqüências. Encantava-me e me alegrava, com a alegria que a
certeza tem de sentir-se a si mesma.
E então, voltava-me
para a figura de mamãe: “Veja como ela é uma simples senhora, uma mãe de
família, mas, naquilo que posso discernir dela, como é semelhante a tudo isso
que me ensinam da Igreja. Como ela é lógica, coerente e direita! Portanto, eu a
amo e a quero, porque ela se parece tanto v com a Santa Igreja Católica!”
Plinio Correa de
Oliveira – Extraído
de conferência em 21/9/1982
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