A impostação de uma alma
diante da normalidade da vida quotidiana prepara-a para os momentos de alegria,
bem como para os de sofrimento. Assim se dava com Dona Lucilia, serena na
alegria, mas também na provação.
Dona Lucilia tinha um temperamento eminentemente sereno. Mesmo quando algo lhe
transmitia uma especial alegria, ela não perdia a tranquilidade, hauria esta
serenidade que depois se estendia para os momentos de dor e sofrimento. Nestas ocasiões, sua
reação não era distinta da que ela teria nos dias comuns. Pois ela amava Nosso Senhor Jesus
Cristo, e se Ele tanto sofreu sem
nunca reclamar, conservando
inteira serenidade, também ela deveria ser desta forma.
As pequenas alegrias preparavam-na para conservar a serenidade
diante da dor
Desta forma,
todas as suas
pequenas alegrias ao
longo de cada
dia preparavam-na para conservar-se serena diante de sofrimentos
futuros.
Por exemplo,
num dia comum,
agradável e tranquilo
— como era
normal na São
Paulinho daqueles tempos —, ao
aproximar-se a hora do retorno de seu filho Plinio do colégio, ela sempre ficava um pouco preocupada, com receio de que
lhe acontecesse algo pelo caminho. Sobretudo por ser ele um pouco
distraído, ela temia
que um automóvel o atropelasse. Por isso, ela
permanecia no terraço andando um pouquinho e tomando ar, muito serena, apesar de preocupada.
Em certo momento, ela
via o portão se abrir e ele entrar. Quando ele
percebia que sua mãe estava lá, tirava
o chapéu e a cumprimentava, depois
ia correndo falar
com ela. Mas,
às vezes, ele não a via e entrava
direto. Nestas ocasiões, ao vê-lo entrar, ela deveria sorrir serenamente e
dizer: “O meu filhão chegou.” Era um fato inteiramente normal,
mas ela o vivia dentro de uma atmosfera religiosa, a qual fazia de uma
simples chegada uma causa de felicidade para ela. Nestas alegrias suaves e
tranquilas, ela encontrava a serenidade e a paz para sua alma.
Assim, quando ele
chegava junto dela, não
encontrava nenhum resquício da preocupação que tinha há pouco, pois a primeira impressão de sua
chegada bastava para a tranquilizar. E,
aproximando-se dela, ela dizia
suavemente: “Filhão, como vai?”
“Sua serenidade me tranquilizava”
À noite, quando seus
filhos já estavam dormindo, Dona Lucilia
passava pelo quarto deles e fazia várias cruzinhas em suas frontes, pedindo
a Deus que os abençoasse.
Algumas vezes,
acontecia de Plinio acordar nessa hora,
mas, ainda que não despertasse
inteiramente, percebia tratar-se de sua mãe; então, dormia ainda mais contente e tranquilo, por
saber que aquela serenidade havia pousado sobre ele.
Assim era Dona Lucilia:
suave e afetuosa, até mesmo à
noite!
Calma e serenidade em meio aos dissabores
Dona Lucilia conservava esta serenidade
até mesmo nos momentos mais difíceis. Em todas as dificuldades, ela nunca se
portava com agitação ou torcida.
Depois do
primeiro impacto de um
revés qualquer, ela pensava um pouco e
dizia: “Bom, eu vou fazer isto, falar aquilo, resolver de tal forma.” Planejava
tudo, e depois, com toda a tranquilidade, começava a execução do plano.
Este estado de
espírito, no fundo, era uma plena
confiança em Deus, que a
levava a pensar
o seguinte: “Por mais que nos
advenham os piores infortúnios, Deus permitiu, e, portanto, é para o nosso bem.
Estes sofrimentos são o ornato da vida.” Assim ela via o sofrimento, com
inteira serenidade, sabendo que tudo acontece por uma razão mais alta que está
em Deus.
Jesus sofredor, modelo de serenidade seguido por Dona Lucilia
Para conservar
esta serenidade, concorriam as Vias Sacras que ela rezava na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, diante de estações não muito artísticas, porém sérias e piedosas. Em cada uma das estações está representado um sofrimento de Cristo durante sua Paixão. Em todos eles,
Nosso Senhor é apresentado
com uma enorme serenidade e tranquilidade, por mais que sejam enormes
seus sofrimentos. Ele sofre, sabendo que tem de sofrer, e por isso não toma
aquilo como sendo algo extraordinário e
inconcebível.
Frei Pedro de Cristo,
ao compor uma canção que diz “Ojos claros
serenos, si pues morís por mi, miradme al menos — olhos claros serenos, se morreis por mim, olhai-me pelo menos”,
acertou enormemente. Pois, de fato, se
Aquele que, em meio a tantos sofrimentos, conservou tal serenidade, pousasse
o olhar sobre
alguém, isto bastava para infundir-lhe
a mesma paz.
Dona Lucilia várias
vezes parava diante da imagem do Sagrado
Coração de Jesus, olhando-O durante longas horas, talvez tenha recebido d’Ele um olhar, que bem pode ter sido a causa de haver nela
tanta serenidade. Algo semelhante dava-se
com Dona Lucilia: quem se aproximava dela recebia algo
desta serenidade que, em última análise, vinha de Cristo Nosso Senhor.
Transcrito com
adaptações da conferência de Plinio Correa de Oliveira de 11/03/1995
Nenhum comentário:
Postar um comentário