Dona Lucilia formou seus filhos de modo a terem o espírito
sempre voltado para a transcendência. Tal orientação influenciou a fundo o
Natal da família
Dona Lucilia
tinha uma grande
elevação de alma. Ela estava na direção de uma família pequena e levava uma vida
muito recolhida, serena, tranquila, própria de uma senhora de casa. E
habitualmente percebia-se, por seu olhar, seu timbre de voz, sua expressão de fisionomia, seus gestos, que
tudo quanto ela pensava se relacionava
com as mais altas considerações possíveis; e seu espírito contemplava as coisas
de uma altura metafísica, — embora ela não fosse uma
senhora de cultura filosófica — de uma grande elevação.
Espírito voltado para a
transcendência
Isso se
notava nas menores
coisas; por exemplo, agradando seu filho enquanto brincava, como qualquer mãe
faz com seu
filho. Porém esse agrado era deduzido de tão altas considerações
que percebia-se em sua fisionomia, seu
modo de ser, provirem de muito alto e serem muito lógicas.
Dessa
forma, todo agrado que ela fazia aos filhos era um incentivo para serem melhores, visando uma elevação
altíssima.
Essa
transcendência marcava o Natal. Por exemplo, seu filho Plinio acreditava muito
em São Nicolau, mas percebia
haver algo de meio mítico, lendário, de maneira
que não se preocupava
em imaginar como era sua figura. Dona
Lucilia ensinava que São Nicolau vinha do Céu e dava presentes. Relacionava com
valores dos mais altos, mais transcendentes, que o espírito humano possa
atingir.
Rezando junto ao presépio
Isso transparecia
muito na noite
de Natal. Dona Lucilia providenciava uma
grande árvore de Natal, que ela mesma ornamentava com muitos
enfeites. Estando tudo pronto, convidava
seus filhos, depois primos irmãos, — era um grande número de crianças —, e
ainda outros parentes. Então desciam
todos do andar superior da casa,
segurando pelas mãos e cantando canções natalinas, até junto àquela árvore
que estava toda iluminada, ao pé da qual
havia um presépio com o Menino Jesus. Ela mandava que todos se ajoelhassem e rezava uma oração na qual se percebia toda a sua elevação de alma, toda a sua suavidade e doçura. Compreendia-se
haver ali uma alegria superior que
impregnava tudo aquilo; era a alegria da bondade, da virtude, da retidão, da limpeza, da consciência tranquila.
Em
ultima análise, era a alegria de Deus
que se comunicava
a todos pelos sorrisos do Menino Jesus.
Alegria de praticar a virtude
Tudo aquilo impregnava profundamente a noite
de Natal com esta ideia que
falta muito na
educação de hoje: a vida do homem
virtuoso é mais suportável, mais
aceitável, do que a do não-virtuoso. A virtude traz alegria, é entusiasmável. É possível viver 70, 80 anos na virtude sem desanimar; isso
Dona Lucilia, pelo seu modo de ser,
deixava muito claro, e ensinava a
degustar essa alegria sobrenatural que pairava em torno da noite de Natal.
Terminada
a festa, os convidados iam para as suas
casas, e seus filhos para cama. Ela os esperava
adormecer para pôr aos seus pés o
presente. E
eles acordavam de madrugada na ânsia de vê-lo. Porém — fato por onde se nota a
temperança de dona Lucilia e como ela os
educava —compreendiam que não deviam acender o abajur, pois
havia pessoas dormindo
na casa. Seria uma desordem, não
só porque as acordaria, mas em razão de um princípio superior: hora de dormir é hora de dormir, não se brinca;
hora de brincar é hora de brincar, não
se dorme.
Quando
clareava o dia, despertavam, saltavam da cama e abriam o pacote. Sentiam um
gáudio, uma satisfação. Esperavam, então, Dona lucilia acordar para ir
agradecer-lhe. E o abraço, o beijo, a
bênção dela, eram um presente
maior do que
aquele que ela acabara de os dar.
Tudo isso constituía aquela espécie de alegria meio angélica do Natal, que somente conhece quem a teve.
Esta ideia da alegria como fruto do bem, como um modo de nos sustentar na
prática da virtude, foi complementar de
uma outra que ela ensinava muito:
aguentar a vida dura, porque a vida é
difícil, é uma luta, e temos que
sofrer. Vendo como Dona Lucilia sofria,
colhiam lições para sua formação.
Plinio Correa de Oliveira - extraído
com adaptações de conferência de 27/12/1975
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