Continuação do post anterior
Na correspondência de Dª Lucilia nos
anos anteriores, transparecia mais sua imensa bondade e um inigualável afeto materno.
Sem esses aspectos perderem em nada sua intensidade, nas missivas que ela
escreveu durante o Concílio, chama especialmente a atenção seu profundo amor à
Santa Igreja. Por suas palavras, notamos como ela acompanhava com sumo
interesse as notícias estampadas na imprensa sobre os trabalhos da magna
assembléia reunida em Roma.
Após receber a primeira carta de seu
filho, escreve ela estas belas linhas:
São Paulo, 18-10-1962
Filhão querido de meu coração! Quando
tiveres outra vez a necessidade de te ausentar por tantos dias e para tão
longe, avisa-me com antecedência para me habituar um pouco a esta idéia, antes
de te ver partir, e “por mais que o sinta!”. Se nesta ocasião podias prestar
qualquer auxílio aos bispos e arcebispos, etc., do bom clero, e não o fizesses,
faltarias com o teu dever!
Estou guardando o jornal “Estado de S.
Paulo”, que poderás gostar de ler. (...)
Você foi convidado para o jantar
oferecido aos arcebispos e bispos brasileiros pela embaixada brasileira junto a
Santa Sé? Deve ser hoje! Tencionava escrever-te anteontem, mas tive tanta gente
que veio visitar-me para me distrair de tua ausência, que não me foi possível
fazê-lo!
Quero te pedir um favor... toma muito
cuidado no que comes por aí, pois quando o cardápio é bom, você fica bem
guloso, e se abusas, pode te fazer mal! Cuidado, hein?
Tenho rezado muito por você.
Com mil abraços e beijos e muitas
bênçãos da mamãe, que tanto, tanto te quer,
Lucilia
No dia seguinte Dona Rosée escreveu uma
carta a Dr. Plinio, dando-lhe conta do andamento de alguns assuntos em São
Paulo. Referindo-se a Dª Lucilia, dizia haver suportado “relativamente bem o
choque de sua partida e, como tem tido muita visita, a coisa vai bem. Devora
todas as notícias sobre o Concílio”.
Notícias de Roma
No dia 20, chegaram às mãos de Dª
Lucilia, vindas de Roma, as primeiras novas de seu filho.
Roma, 13-X-1962
Mãezinha, amor querido do meu coração!
Escrevo-lhe com tinta vermelha, pois se
quebrou minha caneta de tinta azul, e no momento não disponho senão desta.
São 1h30 da noite. E é este o primeiro
momento que encontro disponível para lhe escrever. Começo por minhas notícias.
A viagem foi excelente. Avião
confortável, boa comida, pontualidade satisfatória, boa companhia, nada faltou.
Ou por outra faltou tudo, pois não estava a meu lado a minha Manguinha
querida...
[Na escala em Paris fomos] ver os
Invalides, os dois prédios da Place de la Concorde, e a Madeleine, que foram
raspados da pátina que tinham. Lucraram enormemente. Como é natural, fomos
também a Notre Dame, maravilhosíssima como sempre. Depois de um lauto lanche no
Café de la Paix (Place de l’Opera), voltamos para Orly, e de lá para Roma.
Orly é horrendo. Como é óbvio,
Fiumicino, o Orly italiano, é ainda mais feio.
Roma, pelo contrário, está lindíssima.
A cidade transborda de riqueza, a população está forte, alegre, nutrida e bem
vestida. O número de automóveis cresceu prodigiosamente. As vitrines estão
lindas, inclusive as que expõem comestíveis.
Quanto a mim, sinto-me bem, e com um
apetite muito vivo.
A parte final desta tão interessante
missiva era reservada à expansão de seu filial afeto:
Agora, passemos à Senhora. Como vai,
meu Bem? E a preciosíssima saúde? E o que disse o [Dr.] Brickmann? Os remédios
dele adiantaram? E o fígado? Diga-me tudo, porque a Senhora bem sabe quanto me
interessa tudo quanto lhe diz respeito. Mande-me pois todos os pormenores.
Meu Amorzinho, a Senhora nem calcula
quantas vezes por dia me lembro da Senhora, e como conto os dias para revê-la.
Cuide com o maior esmero, da sua saúde.
Receba milhões de beijos, cada qual
mais carinhoso que o outro, do filho que tanto e tanto a quer e respeita, e que
lhe pede as orações e a bênção,
Plinio.
Continua
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