No dia 21 de outubro, Dª Rosée enviava
a Dr. Plinio nova carta, com mais alguns detalhes sobre o dia-a-dia de Dona Lucilia:
Ontem foi dia de festa porque Mamãe e
eu recebemos suas cartas. Nem posso te dizer a alegria que sentimos. (...)
Mamãe está ótima. A Olga e a Carlota
fazem “puzzle” com ela à noite, e tem tido muitas visitas. Já mandei vir duas
vezes a preciosa Sinhá. O Brickman achou-a muito bem. Em casa estão só a Olga e
a Carlota. Como esta última tem mania de limpeza e é muito ativa, a coisa vai
bem.
A “preciosa Sinhá” era prima de Dª
Lucilia. Ambas mantiveram estreitas relações a vida inteira, só interrompidas
pela morte. Era das poucas pessoas que restavam dos antigos tempos, pelo que
reinava entre ambas grande afinidade.
Levada por seu amor à Santa Igreja e
pelo desejo de acompanhar em espírito seu filhão, Dª Lucilia conservava as
vistas voltadas para Roma, procurando discernir o que se passava no Concílio.
São Paulo, 23-10-1962
Filho tão querido de meu coração!
Já recebeste a [carta] de Rosée? Ela e
Maria Alice têm vindo todos os dias. Rosée veio ontem, e hoje o tempo está
péssimo... tão frio, chuvoso, que enregela principalmente aos velhos reumáticos
nos “pulsos” como eu!
Se soubesses como fica triste a vida
quando viajas para tão longe!!! É verdade que têm vindo os meus parentes me
visitar, menos Yayá, Dora, Gizela que estão no Rio.
Pensa bem no que te digo.... cuidado,
muito cuidado com o teu apetite... se ficas doente, como vais fazer? Perdes o
fim do “célebre Concílio”, bonitos passeios, etc!
Saudosíssima, peço a Deus e a Nossa
Senhora para que te protejam e abençoem, e envio-te mil beijos e abraços de
tua... manguinha...
Lucilia
É edificante observar nas cartas de Dª
Lucilia como ela fala muito pouco de seus problemas pessoais. Quando o faz, é
para satisfazer os insistentes pedidos de seu filho.
Por outro lado, tendo ficado muito só,
em nenhum momento se queixa desse fato, pois sabe que a viagem de Dr. Plinio é
feita para atender aos interesses da Igreja. Razão largamente suficiente para
justificar tamanho sacrifício, que ela estaria disposta a repetir quantas vezes
fosse necessário. Depois do bem da Causa Católica, sua primordial preocupação é
o bem de seu filho, como se pode ver mais uma vez na carta seguinte em que, por
distração, ela escreve “Congresso” em vez de “Concílio”...
São Paulo, 26-10-1962
Filho querido de meu coração!
Espero que já tenhas recebido duas
cartas minhas; hoje mais esta. Recebi também uma tua, de Roma. Imagino o quanto
deves estar apreciando esta bela morada dos Papas, e ainda mais, tudo isso em
companhia de teus bons e caros amigos; só me faz pena de ver os que não puderam
ir! Sempre que pode, manda-me notícias tuas... — os jornais não dão notícias
que satisfaçam!
Esteve aqui o Castilho para fazer-me
uma visita.
Francisco Eduardo me pediu um terço,
para rezar nele todos os dias. Diz o Castilho que é muito fácil encontrar aí,
terços muito bons e fortes.
Não me habituo a escrever com as
canetas que temos aqui.
Quando acabará o Congresso? Quando
pensas poder voltar? Sou eu quem te diz... deixa tanto trabalho, passeie
bastante, coma bastante, mas sem exagero, vejam a catedral de Milão, que é uma
beleza, e os inúmeros quadros de Florença, revejam Paris, e voltem logo, pois
estou com umas saudades loucas do meu “caro”, caríssimo Filhão, de todo o meu
coração!
Com muitos beijos, abraços e toda a sua
bênção, de tua... “manguinha”...
Lucilia
Tal é o esquecimento de si própria que
Dª Lucilia apenas se lembra de pedir um terço para o bisneto, Francisco
Eduardo. Embora não o diga, talvez tenha sido ela que ensinou o menino a rezar
o Rosário, explicando-lhe na sua maneira tão atraente os vários mistérios da
vida de Nosso Senhor e de sua Mãe Virginal. Certa de que um objeto de piedade
vindo da Cidade Eterna o incentivaria mais à devoção, pede-o a Dr. Plinio.
(Transcrito, com adaptações, da obra
“Dona Lucilia”, de Mons. João Clá Dias)
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