Constituía
maior distração para Dª Lucilia receber pessoas amigas. Já muito antes de as
visitas chegarem, mandava a empregada abrir as venezianas do salão nobre e
verificar se a disposição dos móveis e dos objetos estava de acordo com suas
orientações. Pouco faltando para a hora aprazada, perguntava duas ou três vezes
se haviam chegado as pessoas esperadas. Quem tinha a graça de estar próximo
dela nessas circunstâncias, podia uma vez mais comprovar seu interesse e
desvelo pelos outros. Costumava acontecer que, pela solicitude dela com os
visitantes, estes se esqueciam até da hora de se retirar...
Entretanto,
nunca deixava de ocupar o lugar central de suas atenções seu próprio filho.
Durante
quase toda a sua convalescença, Dr. Plinio passava o dia no escritório de seu
apartamento. Ali, em certas horas atendia os membros do seu movimento, e fora
dessas ocasiões guardava repouso, seguindo orientação médica.
Escritório Plinio Correa de Oliveira |
Não
era raro que, ao passar pelo corredor, Dª Lucilia manifestasse desejo de se
encontrar com seu filho. Era tocante observar a cena. Com a fronte voltada para
a porta do escritório, ela dizia à empregada que movimentava a cadeira de
rodas:
—
Vamos aqui, Mirene.
Muitas
vezes era a hora do descanso de Dr. Plinio, ou o momento de suas orações, e a
porta estava fechada. A empregada respondia:
—
Mas, Dª Lucilia, agora ele está dormindo.
—
Você tem certeza disso?
A
respeito desses episódios, conta Dr. Plinio: “De vez em quando, estando já
deitado no sofá, eu a ouvia dizer:
“—
Mirene, agora é hora de eu falar com Dr. Plinio.
“A
empregada simulava não ouvir, mas mamãe insistia e às vezes ordenava:
“—
Entre! Eu quero falar com Dr. Plinio!
“De
dentro do escritório, eu poderia dizer:
“—
Mirene, entre! — mas deixava correr o marfim, pois queria ver em que daria
aquela batalhinha. Às vezes mamãe impunha sua vontade, com autoridade. A
empregada não tinha ânimo de enfrentar e cedia.”
Dona
Lucilia entrava num contentamento único! Uma “batalhinha” semelhante também se
verificava quando Dr. Plinio estava no quarto de dormir. Acontecia que Dª
Lucilia, ao se aproximar da porta, dizia à empregada:
—
Mirene, eu quero ver Dr. Plinio, hem! O quarto dele está chegando.
Quarto Plinio Correa de Oliveira |
A
cadeira de rodas continuava impassível seu caminho e Dª Lucilia insistia:
—
Mirene, agora chegou a hora de eu falar com Dr. Plinio.
A
empregada retrucava:
—
Não, senhora, já passou a hora.
—
Não, é hora, sim!
Dr.
Plinio então dizia:
—
Deixe-a entrar — e fingia que era a hora de estar com sua mãe.
—
Então meu bem, chegou o momento de nos vermos...
“Quando
chegava ao meu quarto, ela estava sossegadinha”, lembra Dr. Plinio. “Eu
gracejava um pouco com ela, conversava, mandava pô-la bem perto de mim, para
que ela me ouvisse melhor. Ela ficava prestando uma atenção enorme nas minhas
palavras. E não duvido que, à noite, enquanto estivesse se preparando para
dormir, ainda pensasse nesse encontro”.
Fora
dessas esporádicas ocasiões, havia um horário preestabelecido — antes da sesta
e da noa 1
de Dr. Plinio — em que Dª Lucilia tinha a tão esperada oportunidade de
conversar com ele. Essa hora ela nunca perdia!
Aproveitando
o almoço e o jantar para cuidar dos assuntos de sua obra, Dr. Plinio recebia sempre
alguns amigos. Dona Lucilia entrava a partir do final do segundo prato, já
próximo à sobremesa. Cessavam então os temas de trabalho e começava uma
conversa variada. Terminada a refeição, os amigos de Dr. Plinio se retiravam,
deixando-o a sós com Dª Lucilia. A prosinha era habitualmente mais curta do que
ela gostaria. Com efeito, Dr. Plinio determinara que a empregada a deixasse com
ele, no escritório, durante um tempo limitado, devido às exigências de sua
convalescença. Esgotado o tempo, ela entrava e dizia:
—
Dª Lucilia, vamos, Dr. Plinio precisa descansar.
—
Não, não — respondia por vezes Dª Lucilia — você pode deixar que eu vou ficar.
Mas
a Mirene, seguindo as instruções de Dr. Plinio, ia puxando a cadeira
devagarzinho.
—
Mirene, o que é isso? Eu vou ficar.
Dr.
Plinio intervinha então.
—
Benzinho, preciso descansar um pouco. Diante do pedido do “filhão”, Dª Lucilia
não dizia mais nada, submetendo-se pacientemente à privação da companhia de
quem lhe era tão caro. A empregada ia puxando a cadeira, de costas, e Dª
Lucilia ia-se despedindo à distância, com um leve gesto de mão, enquanto fitava
seu filho ainda um instantezinho...
(Transcrito,
com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias)
Nenhum comentário:
Postar um comentário