Dr Plinio
discorre sobre o nexo íntimo de causalidade entre o que possa haver de bom nele
e a influência católica recebida de sua mãe, Dona Lucilia.
Senso católico
Com efeito, sempre
que as solicitações de meus ouvintes me levam a recordar situações de minha
infância e dos meus tempos de moço, mais a figura de Dona Lucilia me aparece
com uma confirmação ainda mais vincada, mais acentuada do imenso papel dela
para a formação do senso católico em mim.
Neste sentido, não me
esqueço um episódio — diversas vezes narrado por mim — que se deu comigo na
igreja do Sagrado Coração de Jesus. Aliás, não foi um fato isolado, mas
repetido incontáveis vezes, talvez anos a fio, o qual entretanto ficou-me
marcado de modo particular quando se produziu pela primeira vez. Na minha
memória, aquele foi o momento arquetípico, gravado indelevelmente no meu
interior, em que eu formei certa idéia de conjunto da igreja do Sagrado Coração
de Jesus, enquanto assistia à Missa.
Formou-se pelo agrado
sucessivo, espontâneo, das figuras, da cor interna do templo, dos vitrais, da
atmosfera, do que pairava de sobrenatural, do rito, da liturgia, etc. Ainda que
eu não entendesse com toda a profundidade o significado do santo sacrifício da
Missa, tinha a idéia — concebível e proporcionada ao intelecto de uma criança —
de se tratar da renovação incruenta do holocausto de Nosso Senhor no Calvário.
Ora, eu acompanhava aquela celebração e, de repente, constituiu-se no meu
espírito a noção de conjunto, envolvendo as belezas artísticas da igreja, sua
atmosfera sobrenatural, o esplendor do culto e a renovação do sacrifício de
Jesus. O intercâmbio, as reversibilidades de todas aquelas coisas se patentearam
à minha alma, sem que eu conhecesse a palavra “reversibilidade”.
Conferindo com a alma de Dona Lucilia
Percebi esta
inter-comunicação e compreendi haver por detrás de tudo um espírito, uma alma,
uma causa superior que era Deus Nosso Senhor e o Divino Espírito Santo, agindo
acima de tudo e a tudo sustentando. Essa reversibilidade fazia com que aquele conjunto
brilhasse como um reflexo muito fiel, preciso, exato e rico da fisionomia do
próprio Deus. E meu ato de Fé se manifestou inteiro: era a Santa Igreja
Católica Apostólica Romana! E, ao mesmo tempo, um ato de amor: “Ela vale tudo e
é tudo!”
Vinha-me, então, a
esperança do Céu e a idéia dos esforços e da luta que eu deveria travar para
alcançálo. E, com naturalidade assombrosa, para explicar-me essas noções todas,
eu pensava em Dona Lucilia, que talvez estivesse junto a mim: “Isso é assim
mesmo, pois a alma, o espírito de mamãe é assim. Logo, devo interpretar tal
coisa e tal outra dessa maneira. É mesmo, confere com ela...”
E assim como aquele
primeiro ato de Fé e de amor, pela graça de Nossa Senhora se estendeu pela vida
inteira, também durante o longuíssimo convívio que a Providência determinou
tivéssemos mamãe e eu, cada vez mais me fazia notório esse paralelo — “É claro,
mamãe é assim” —, vendo nela um reflexo da Igreja, através dela contemplando
melhor a Igreja e, conhecendo mais a Igreja, compreendendo melhor a ela.
Continua no próximo
post
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