Dona Lucilia ensinava
como prolongar a inocência dentro da maturidade, fazendo seus filhos
compreenderem como a inocência não é apenas um estado de espírito de uma criança, mas um programa de vida que, em última análise, leva o homem a cumprir o
primeiro mandamento da Lei de Deus.
Fantasias de Carnaval que estimulavam a inocência
É interessante notar
que os dias de Carnaval ofereciam a
mamãe uma oportunidade especial de estimular em nós a inocência. Todas as crianças da família
se fantasiavam, vestidas pelos pais. E
eu me deixava trajar como Dª Lucilia
quisesse, pois a vontade dela era indiscutível
para mim. Agora, um detalhe: as
fantasias que ela arranjava sempre
tendiam ao sério, ao contrário de outras
que exploravam o burlesco, impelindo a
criança a tomar atitudes descompostas e
apalhaçadas.
Lembro-me de certo
ano em que ela, nas suas delicadas
concepções, planejou para mim uma
fantasia de marajá. Ignorando
as características do personagem
que eu iria adotar, logo quis saber do que se tratava, e mamãe então me descreveu as belezas da Índia,
com seus lindos palácios, suas riquezas e mistérios.
— Você, portanto, vai
se fantasiar de marajá! — disse-me ela,
num tom que era um convite longínquo para a criança encarnar e viver o papel
de soberano hindu por alguns dias.
Recordo que minha fantasia comportava um turbante feito de várias sedas, ornado de uma bonita aigrette que
acompanhava os meneios da cabeça e
me dava a
impressão de uma espécie
de sismógrafo muito
nobre da alma humana. Além disso,
era presa ao turbante por uma grande pedra “preciosa”, e esse pormenor
de uma “jóia” incrustada na testa, da qual se desprendia uma elegante pluma,
parecia mais ou menos a profundidade do pensamento da qual se destacava uma construção
alígera...
O resto
da roupa era
igualmente de seda, guarnecida de jóias falsas, anéis,
colares, etc. Os
sapatos, com as pontas voltadas
para cima e revestidos de cetim lilás,
pareceram-me particularmente graciosos,
pois achei muito feliz a ideia de
calçados que se
erguiam da vulgaridade
do chão, como se o seu usuário
dissesse: “Eu toco no solo, mas o melhor
de mim mesmo se faz alheio à poeira. Por isso viro a ponta para cima.”
Assim como com as
fantasias de outros Carnavais, essa do
marajá era preparada no
clima criado por
Dª Lucilia, falando-me
com seriedade acerca do personagem que eu iria representar,
e imaginando uma vestimenta que, conforme os padrões e as posses dela, deveria ficar seriamente bonita.
Quer dizer, com inocência e seriedade,
ela tinha empenho em que eu me apresentasse bem.
(Plinio
Correa de Oliveira – Extraído de
conferência em 12/6/1982)
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