Entre os edificantes
aspectos da pessoa de sua mãe, Dr. Plinio apreciava a elevada clave de espírito
em que ela se situava e da qual provinham seu afeto e sua benevolência, tão
atraentes quanto consoladores. Na verdade, Dona Lucilia procurava,
habitualmente, considerar todas as coisas em função do parâmetro absoluto que é
Deus
Já tive ocasião de
mencionar que minhas observações em relação a Dona Lucilia começaram muito
cedo, quando eu, menino de 2 ou 3 anos, acordava durante a noite e saía do meu
berço — colocado ao lado da cama dela — para ir me sentar sobre o peito de
mamãe. Abria seus olhos com a mão e começava a analisá-la.
Reflexo da clemência de Nossa Senhora
Essa relação baseada
no afeto e na bondade teve um importante papel na minha compreensão acerca da
insondável misericórdia de Nossa Senhora para com os homens, especialmente para
com os pecadores. Quando eu próprio me senti objeto dessa clemência da Mãe de
Deus, foi como se Ela me dissesse: “Eu perdôo tudo, e por mais que você
cambaleie e se apresente a mim nesse estado de penúria espiritual, terei pena e
o perdoarei”. O sentir essa disposição maternal determinava em mim a idéia da
proteção e do afago desinteressados de Nossa Senhora para comigo: a
misericórdia d’Ela sobrepuja os últimos limites de minha miséria, cobre-os com
sorriso, com ternura, com sobras de complacência, só porque eu sou o Plinio...
Ora, em grau menor,
eu sentia análogas disposições de mamãe em relação a mim. Portanto, sem eu
saber, ela preparava meu espírito paracompreender a extraordinária misericórdia
de Nossa Senhora. Quiçá eu não a tivesse entendido como a entendi, não fosse
esse contato prévio com o afeto de Dona Lucilia.
Ungido pelo perfume da bondade
A par dessa profunda
analogia com a ternura de Maria Santíssima, eu apreciava em Dona Lucilia a
elevada clave de espírito em que ela se situava e a partir da qual nos
dispensava suas manifestações de afeto e benevolência. Na verdade, mamãe
procurava habitualmente considerar as coisas em função de algo mais alto, em
função do parâmetro absoluto que é Deus, assim como procurava atraí-las para
essa elevação de alma.
De maneira que me
sentia a mim mesmo sendo visto desde essa clave, e quando Dona Lucilia me
agradava, era algo desse patamar que descia sobre mim, e como que me ungia. Por
exemplo, quando ela me fazia o sinal da Cruz na testa, antes de ir dormir, eu
percebia que alguma coisa daquela alta clave me recobria como um azeite, um
bálsamo, e me fazia bem. Mas, no sentido próprio da palavra: era perfumado,
suavizante, e penetrava em mim como o óleo penetra no papel.
Junto com essa
elevação, a bondade invariável para comigo e para com os outros. Revestida de
uma certa tristeza, igualmente comovedora, por constituir um ápice de conúbio
com aquela clave elevada, na qual ela muitas vezes se sentia só: “Moro nesse
patamar, que é o lugar do meu abandono. Convido-os para estarem comigo e desejo
sua companhia. Porém, se não vierem, aqui permanecerei sozinha.” Supérfluo
dizer que essas qualidades de Dona Lucilia falavam imensamente à minha alma de
filho...
Plinio Correa de
Oliveira – Transcrito de conferência em 4/12/1985
Revista Dr Plinio n.
118
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