A harmonia entre o afeto e a severidade na pessoa de Dona
Lucilia, manifestada por ela ao formar seus filhos, muito contribuiu para que
Dr. Plinio um dia compreendesse melhor a insondável e superior clemência de
Maria Santíssima.
Na ordem moral, os
dois legados mais preciosos que minha mãe me deixou foram, de um lado, a
bondade, e de outro, a severidade sábia.
Nunca uma censura por irritação pessoal
Com efeito, em toda a
medida do razoável, ela demonstrava uma bondade imensa, inclusive na hora de
admoestar a mim ou a outro por algo de errado que tivéssemos feito. A censura
era logo seguida de um perdão, de uma indulgência repassada de suavidade, sem
qualquer reclamação caso o mau ato houvesse atingido a ela. Nunca, no momento
de nos corrigir, entrava a reivindicação de um direito dela transgredido; não
eram pitos decorrentes de uma irritação pessoal, mas sempre por causa de um
princípio ofendido, como, por exemplo, o da autoridade materna. Contudo, no que
dizia respeito aos seus próprios interesses, manifestava invariável paciência e
se mantinha quieta, como se nada a tivesse contrariado.
Antes de querer bem à mãe, amar os princípios
A par da bondade,
porém, não posso me esquecer da seriedade no olhar de Dona Lucilia ao nos
repreender, a sua compenetração de que era preciso fazer prevalecer um
princípio, e sua convicção de que, se eu não conformasse minha vida com aqueles
princípios, meu valor aos olhos dela seria menor. Quer dizer, ela esperava ver
em mim o filho que, antes de querê-la bem, amasse e observasse os ditames
morais que deviam ser obedecidos e amados.
“Só três medalhas?”
Além do olhar sério,
suas palavras também exprimiam a sabedoria e a gravidade inerentes à atitude
materna de corrigir e formar um filho. Embora, como disse, nessas correções o
carinho não estivesse ausente, a intransigência dela em relação a algum
relaxamento meu se mostrava inteira, como pude comprovar num dos marcantes
episódios de minha infância, quando ainda aluno do Colégio São Luís.
Certo ano, no apogeu
de meu desempenho estudantil, recebi quatro medalhas na festa de distribuição
de prêmios, à qual mamãe não costumava comparecer. Como até hoje acredito
fazerem os alunos premiados, voltei para casa — ainda me lembro — vestido com
roupa de marinheiro, ostentando alegre e ingenuamente os distintivos de meus
triunfos escolares. Ao me ver chegar, Dª Lucilia me recebeu com intensas
efusões de afeto e contentamento pela aplicação do filho.
No ano seguinte,
porém, retornei com apenas três medalhas... Mamãe me acolheu na porta de casa,
olhou para meu peito e disse:
— Só três?
Havia no seu tom de
voz aquela intransigência da censura materna:
— O que aconteceu
para você decair?
Continua no próximo post
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