Foi o
Sagrado Coração de Jesus, sempre pronto a perdoar e acolher o pecador
arrependido, o modelo perfeito com o qual Dª Lucilia sempre procurou se
identificar. Assim, em suas atitudes, palavras e gestos iam transparecendo de
modo crescente, com o correr dos anos, a extrema suavidade e doçura de trato
que tanto refulgiram na figura do Divino Mestre.
Já seu
filho, exposto a rudes pelejas apostólicas, além da infinita Bondade, adorava
de maneira particular a Nosso Senhor enquanto intransigente com o mal que se
mostrava empedernido. Essa dualidade de aspectos do Divino Modelo fazia
desprender do convívio mãe-filho uma melodia de notas opostas, mas sempre
harmônicas. Dr. Plinio era tendente a manifestar categoricamente as próprias
opiniões, até nas menores coisas, e Dª Lucilia procurava refrear um pouco este
expansivo modo de ser, às vezes por demais contundente segundo os padrões dela.
Certo dia
a empregada não acertou na compra da manteiga. Após ter untado abundantemente
uma fatia de pão, Dr. Plinio, ao prová-la, logo sentiu um gosto desagradável,
indicativo de que o alimento não estava fresco.
Dª
Lucilia, que punha todo empenho em lhe proporcionar um cardápio de acordo com
sua preferência, estava sempre atenta às reacções dele, e percebeu de imediato
sua repulsa.
— Meu bem
— disse ele — essa manteiga que a empregada comprou não serve nem para engraxar
os trilhos dos bondes!
Dª Lucilia
ficou com a fisionomia um tanto penalizada. Mesmo em se tratando de um alimento
de qualidade inferior, não era bondoso um comentário tão forte, segundo seus
critérios.
Mas, como
admoestar um filho já homem feito, professor universitário? Era uma situação
para a qual só ela podia encontrar uma boa saída. Estando sentada à mesa, ao
lado dele, tocou-lhe suave e repetidamente com a ponta dos dedos no dorso da
mão, como que a lhe dizer: “Meu filho... Meu filho!...” O macio dos toques, o
sedoso da pele, reflexos de seu modo de ser, transmitiam uma censura que
inundava a alma dele de doçura.
E sempre
que Dr. Plinio dizia o que pensava a respeito deste ou daquele, Dª Lucilia,
quando não tinha mais como defender o atingido — por ser indefensável — apelava
para este último e mudo recurso: discretos toques no dorso da mão dele.
Era bem
provável que Dr. Plinio tivesse vontade de acrescentar outro comentário, para
que ela lhe proporcionasse mais uma suave repreensão...
Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João
S. Clá Dias
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