Dª Lucilia
nota mudança de situação do filho
Desde a infância de Dr. Plinio, Dª Lucilia desejava o
desenvolvimento e a irradiação da personalidade dele e entrevia que, de algum
modo, esta atingiria grandes proporções. Suas esperanças quanto ao invulgar
futuro do filho, alimentadas por sua intuição de mãe, em parte haviam-se
realizado quando ele, ainda moço, tornara-se líder das Congregações Marianas e
do próprio Movimento Católico.
Entretanto, insondáveis são os superiores desígnios da
Providência Divina, que sói permitir pesadas provações para aqueles aos quais
ama e que tanto Lhe devotam o melhor de suas vidas. Não foi diferente com Dr.
Plinio e sua querida mãe. Esta, havendo seguido passo a passo a brilhante
ascensão de seu filho, começou a assistir penalizada a uma maré-montante de
dificuldades que lhe perturbaram tanto a vida apostólica quanto a profissional.
À lista de dissabores acrescentavam-se ainda danos econômicos
de monta, devidos não só à perda de seus melhores clientes, como também a uma
lei de inquilinato que prejudicava a fundo os direitos dos proprietários de
imóveis de aluguel, como era o caso de Dr. Plinio. Ao longo de várias conversas
com sua mãe, ele ia-lhe
narrando o que sucedia, descrevia suas vicissitudes, bem como as consequências
daí decorrentes para a existência de ambos.
Com resignação cristã, mediu ela as consequências desses
fatos em sua situação pessoal. Antes era a mãe daquele que fora o mais jovem e
mais votado deputado do Brasil, pólo de pensamento da opinião pública católica
e até da não-católica; daquele idealista diante de quem se abrira a perspectiva
de brilhantes vitórias, até o triunfo final da Igreja sobre os seus inimigos.
Agora se tornava a mãe de um homem ao qual o sucesso havia voltado as costas, e
que passava a viver quase completamente isolado.
Porém, a Dona Lucilia um consolo restava, e isso era o mais
importante: fosse no apogeu do prestígio ou em meio à contrariedade, seu
querido “filhão” continuava sempre o mesmo.
“Não há o que
quebre o Plinio”
Outro sofrimento afligia Dona Lucilia: nada poder fazer em
favor de seu filho, a não ser auxiliá-lo por meio da oração. No entanto, alguns
fatos que de vez em quando lhe chegavam aos ouvidos, por esta ou aquela pessoa
conhecida, enchiam-na de consolação, pois lhe revelavam como, no meio de tantas
tribulações, nada abatia o ânimo dele.
Um dia, por exemplo, Dr. Plinio voltava de balsa, em
companhia de seu cunhado, Antônio de Castro Magalhães, de Guarujá para Santos,
com destino a São Paulo. A pequena distância deles estava sentado um casal, do
maior realce na sociedade paulista da época. Reconhecendo-o, sorriram com
amabilidade, dando mostras de querer entabular com ele uma conversa Dr. Plinio
de há muito conhecia o marido, mas jamais fora apresentado à esposa, razão pela
qual julgou mais atencioso não tomar a iniciativa de procurar o casal para o
saudar pessoalmente. Essa atitude de reserva, julgou dever conservá-la ainda quando
a esposa se pôs também a cumprimentá-lo, de modo amável. Foi por isto que ele
permaneceu no lugar em que se achava, em conversa com seu cunhado.
A dada altura, o marido não se conteve mais e, deixando a
esposa a sós, levantou-se e foi alegremente falar com Dr. Plinio. A gentil atitude
do eminente casal deixava ver como se mantinha intacto na sociedade paulista o
prestígio do intrépido batalhador.
Antônio notou bem o que havia de reservado na cortesia de Dr.
Plinio e, ao encontrar-se depois com Dona Lucilia, narrou-lhe esse pequeno
episódio. Quando, à noite, ela esteve com seu filho para a habitual “prosinha”,
o tema foi este. Cheia de contentamento, ela então lhe contou o comentário do
genro: “Não há o que quebre o Plinio!”
(Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João
S. Clá Dias)
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