Os encargos do escritório de advocacia somavam-se às diversas
outras tarefas que Dr. Plinio já desempenhava. Com efeito, além de exercer o
magistério e de ser diretor de uma imobiliária, entregara-se de alma inteira à
atividade apostólica, que muito o absorvia.
A justa nomeada que alcançara como líder católico obrigava-o
a comparecer a grande número de atos públicos nos meios religiosos, sendo com
freqüência convidado a fazer discursos e conferências nos mais variados
ambientes.
Apesar de tão intensos trabalhos, nunca saía de casa sem
antes se despedir de Dª Lucilia e de lhe dizer aonde ia. Ela o abraçava,
beijava e depois lhe dava a bênção. Certo dia, porém, Dª Lucilia notou que Dr.
Plinio saíra sem dela se despedir. Apenas encontrou, em local visível, um
bilhete, encimado por uma pequena cruz sob a qual se liam as iniciais do lema
de Santo Inácio: Ad Majorem Dei Gloriam.
Mãezinha
de meu coração, Há perto de três semanas, marquei para hoje à noite, às oito e
meia, uma conferência na Escola Paulista de Medicina, na Vila Clementino.
Depois
esqueci-me da data. Ontem me telefonaram lembrando. E eu lá vou com grande
antecedência (...).
Por
isto, meu amorzinho, lhe deixo mil e mil dos mais saudosos beijos, pedindo-lhe
desculpas, e prometendo voltar logo que termine, para matar as saudades.
Em outro dia ocorreu o contrário. Dr. Plinio não aparecera de
manhã, à hora habitual, para dizer a ela bom dia. O tempo passava e ele não
dava qualquer sinal de vida. Dona Lucilia mandou a empregada verificar o que
ocorria não demorou: a porta do quarto estava fechada e tudo permanecia em
silêncio. Desta vez, não era nenhuma doença que o prostrara na cama, mas o
cansaço por uma vida muito atarefada. Ela disse então à criada que batesse na
porta e passasse por baixo um bilhete, que escreveu, com o seguinte apelo:
Plinio,
Você
já perdeu a aula, vê se não perde também o emprego! Levanta-te já, peço-te.
Na verdade, a fadiga que alquebrava Dr. Plinio não era só,
nem principalmente, fruto dos muitos trabalhos, mas sim das incontáveis
batalhas em defesa da Fé. Porém, se o combate levado a cabo com entusiasmo lhe
pesava nos ombros, a simples presença de sua mãe compensava tudo, constituindo um
bálsamo de suavidade. Sentia-o de modo especial quando chegava a casa, vindo do
escritório, ocasião em que lhe era mais patente o choque entre o frenesi da rua
e as bênçãos do lar.
Passava Dª Lucilia boa parte do dia rezando ou lendo, sentada
na cadeira de balanço outrora pertencente a Dª Gabriela. Ao seu redor se criava
uma atmosfera de indizível tranquilidade, o oposto do mundo agitado e
tormentoso que se movia fora de casa. Era como se uma campânula invisível,
colocada por um anjo, protegesse aquele ambiente do conturbado torvelinho da
vida. Quem nele penetrasse, sentia a alma pervadida pela paz. Uma paz mais
repousante que duas ou três horas de descanso...
(Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João
S. Clá Dias)
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