Os acontecimentos da Europa, convulsionada pela Segunda Guerra Mundial, alimentavam
o fervilhar das polêmicas no Brasil. Das páginas do “Legionário”, Dr. Plinio
fazia a tribuna, do alto da qual desafiava os inimigos da Igreja.
Dona Lucilia, que seguia com olhar atento as atividades de
seu filho, bem avaliava os perigos pelos quais ele passava. Numa ocasião em que
os ânimos estavam mais acirrados, Dr Plinio chegou a ser ameçado de morte. Por
isso, à noite, Dª Lucilia nunca se deitava antes de seu filho ter chegado em
casa. Quando ele demorava mais do que o habitual, com certa aflição despertava
Dr. João Paulo e, para movê-lo a tomar alguma medida, lhe perguntava:
— Plinio não está demorando?
Como bom nordestino, mais dado ao otimismo e à
despreocupação, o marido procurava sossegá-la dizendo:
— Senhora! ele chega a qualquer momento.
Esse otimismo, graças certamente às fervorosas orações de Dª
Lucilia, nunca foi desmentido pelos fatos, naquelas circunstâncias.
Porém, a bonomia de seu esposo não era suficiente para tranquilizá-la,
e ela replicava:
— Não!... Ninguém sabe o que pode acontecer...
E continuava a rezar, confiante na proteção da Providência.
Às vezes, quando a saúde o exigia, recostava-se na cama e mantinha a luz acesa,
esperando que o ruído dos passos firmes de seu filho anunciasse o fim da
vigília. Depois que Dr. Plinio a cumprimentava e ela verificava com os próprios
olhos a integridade física dele, se o tempo ainda o permitisse, iniciava uma
pequena prosa para saber novidades do dia, como havia corrido o trabalho, o
apostolado...
Dr. João Paulo, a fim de convencer seu filho a chegar mais
cedo, contava-lhe, por vezes, os temores de Dª Lucilia com aquelas demoras.
Porém, para Dr. Plinio as obrigações para com a Causa da Igreja tinham
precedência, e em nada permitiam mudar seus horários. Dona Lucilia compreendia
bem que isto não podia ser de outro modo e nunca se queixava, oferecendo pelo
esposo e pelos filhos, ao Sagrado Coração de Jesus, o sacrifício que aquela
situação representava.
Uma noite, porém, as horas foram escoando e Dr. Plinio não
aparecia. Sempre que poderia ocorrer algum atraso, ele prevenia sua mãe. No
entanto, naquela noite não recebera ela qualquer aviso. Bem podemos imaginar
quantas e quão sombrias conjecturas passaram pela mente de Dª Lucilia. Teria
ocorrido algum acidente com seu filho, ou sofrera ele algum atentado? Como
sempre fazia nas ocasiões de angústia, recorreu ao Sagrado Coração de Jesus e,
aos pés da imagem do Divino Redentor, ora sentada, ora em pé, lá foi desfiando
com serenidade e confiança as contas do rosário.
Quando as primeiras claridades da aurora começaram a
afugentar as trevas, cerca das cinco da manhã, Dr. Plinio afinal chegou. Ainda
não terminara ele de dar a volta completa à chave na fechadura e já Dª Lucilia
se dirigia ao hall de entrada para o receber. Às angústias da longa espera,
sucederam-se as alegrias de o ver ali são e salvo. Por isso mesmo, antes de lhe
fazer qualquer pergunta, recebeu-o com carinho. Após os primeiros instantes de
evidente alívio, perguntou-lhe:
— Mas, meu filho, o que você fez até agora?
Dr. Plinio explicou-lhe o motivo de tão prolongada demora:
dois religiosos para cuja Ordem advogava foram naquela noite ao seu escritório
para tratar de alguns assuntos. A Ordem à qual pertenciam era um de seus
melhores clientes. Como os padres apreciavam uma boa prosa, terminada a
consulta, iniciaram uma conversa que se prolongou até as quatro e meia da
manhã.
Dona Lucilia, ainda um pouco inconformada, replicou surpresa:
— Mas, padres, até essa hora na rua!?
— Sim, senhora. E era minha obrigação atendê-los. Se não
fosse por outras razões, boa parte de minha advocacia depende deles.
Tranquilizada pela explicação, Dª Lucilia resolveu ir se
deitar, não sem antes agradecer ao Sagrado Coração de Jesus por nada de grave
haver acontecido.
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