Pelo afeto com que Dona
Lucilia tratava Dr. Plinio desde o berço, ele conheceu a bondade de
Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus.
Nossa Senhora do bom Conselho de Genazzano |
Durante as reflexões que, por ocasião de minha
doença1, fiz sobre Nossa
Senhora de Genazzano, me chamou muito a atenção a inteira
intimidade do Menino Jesus com Maria Santíssima. Ele até passa a
mão por trás do pescoço d’Ela.
Respeito, admiração,
veneração e ternura
E me lembrava da intimidade que eu tinha com a minha
querida e saudosa mãe, uma intimidade tão cheia de respeito, de
admiração, de veneração e de ternura, mas uma verdadeira
intimidade. Ela sabia ser pequena, afável, meiga ainda quando eu era
um menino que dependia completamente dela.
Por isso, desde os meus primeiros dias, eu a chamava de
“mãezinha”; não sabendo falar bem, eu dizia “manguinha”,
mas já era a ideia do que havia nela de miúdo, de pequeno, de
proporcionado a mim, de exorável por mim, de compassivo para comigo.
Era a ideia que brotava em mim de toda a mansidão e bondade dela. A
bondade de Dona Lucilia foi para mim o modo pelo qual eu conheci a
bondade de Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus.
Do que minha mãe me legou, as duas coisas mais
preciosas que eu conheço na ordem moral, não na ordem religiosa,
foram exatamente, de um lado, a bondade e, de outro lado, a
severidade sábia.
Mamãe era tão bondosa que eu nem saberia dizer! Mesmo
na hora de perdoar as coisas em que eu andava mal, ela manifestava
uma indulgência, uma suavidade, e nunca uma reclamação porque algo
a tivesse atingido. Portanto, jamais entrava reivindicação de um
direito dela.
Os pitos de Dona Lucilia
Por possuir a cultura de uma senhora de antigamente,
mamãe nem saberia bem explicitar um princípio, mas tinha os
princípios em seu espírito.
Assim, nunca o pito dela era motivado por uma irritação
pessoal, mas por um princípio ofendido, inclusive o da autoridade
materna, e sempre com tanta bondade, tanto perdão, tanta paciência
no que dizia respeito a ela. O que, em menino, eu fizesse de pior, ou
outras pessoas faziam de horrível para mamãe — e que eu
presenciava —, enquanto coisa ofensiva para ela, Dona Lucilia
engolia quietinha e não dizia uma palavra.
Como eu me lembro dos pitos dela! Que seriedade no
olhar, que compenetração de que se tratava de fazer prevalecer um
princípio! Que convicção de que, se não conformasse minha vida
com aqueles princípios, para ela eu valeria muito menos! Mamãe via
em mim mais o filho que devia amar os princípios, do que o filho que
precisava querer bem a ela.
E quanta sabedoria no que ela dizia! Que voz grave! E ao
mesmo tempo a bondade não estava ausente. A intransigência dela
para comigo chegava a esse ponto; acho que já contei isso aqui, mas
estou me expandindo um pouco.
De larvas que somos, Nossa
Senhora nos transformará em crisálidas
Uma vez — foi o apogeu de minha vida colegial, mas
nunca fui o primeiro de minha sala de aula — eu voltei da festa de
distribuição de prêmios no Colégio São Luís, com quatro
medalhas no peito; os meninos vinham na rua ostentando as medalhas,
naqueles tempos ingênuos.
Lembro-me que eu vestia traje marinheiro; mamãe abriu a
porta de casa e me agradou, foi uma alegria.
No ano seguinte regressei com três medalhas; ela abriu
a porta, olhou e disse:
— Só três?
— Mas, intransigente. E acrescentou:
— O que aconteceu para você decair?
Dizia isso misturado com tanto afeto, que posso afirmar
ter sido uma preparação para eu compreender o que era a
misericórdia de Nossa Senhora.
Muitos dos que estão aqui a conheceram — alguns até
bem de perto — e poderão achar que há exagero no que eu digo, mas
não que existe uma invenção.
Não quero dizer que as mães dos presentes neste
auditório não lhes tenham ensinado isso; também não desejo
afirmar que eu tenha aprendido inteiramente o que ela me ensinou.
Falo isso para exemplificar um pouco o que estou pensando.
E não sinto que nossa devoção à Santíssima Virgem
seja inteiramente assim. Neste sentido, nós somos ainda como larvas
que se vão arrastando pelo chão até o momento em que Maria
Santíssima nos transforme em crisálidas.
Plinio Correa de Oliveira - Extraído de conferências
de 6/5/1968 e 18/6/1968
1) Diabetes, cuja crise durou de dezembro 1967 a maio
de 1968.
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