Continuação do post anterior
Antes
mesmo de a empregada pôr a mesa, Dª Lucilia convidava o interlocutor a se
acomodar:
—
Por favor, sente-se onde for mais de seu agrado.
Em
geral, depois de explicar por que seu filho demoraria em atender, ela
prosseguia a conversa relatando a origem dos excelentes biscoitos que desejava
oferecer ao visitante.
—
O senhor sabe? Todas as quintas-feiras meu sobrinho vai a Campinas. E, certa
vez, retornando de lá, teve a gentileza de me trazer uns biscoitos. Ao
agradecer, eu disse que os tinha achado muito saborosos e que ficara contente
com o gesto dele. Depois disso, ele sempre me traz uma quantidade suficiente
para a semana inteira. O senhor vai gostar muito deles porque são realmente
deliciosos.
A
maneira como contava este pequeno episódio da vida doméstica envolvia o
interlocutor numa atmosfera de maravilhoso, por onde se tinha a impressão de
que a farinha do biscoito viera do Paraíso e fora moída pelos Anjos... Era de
notar o desapego com que ela oferecia os biscoitos: sem egoísmos nem receio de
que pudessem vir a faltar-lhe.
Conduzia
a conversa com uma singela e encantadora gentileza. Do cimo de seus 91 anos,
não procurava falar de si mesma, de suas dificuldades passadas ou presentes.
Havia um certo momento em que ela fazia uma sugestiva pausa, muito nobre, muito
distinta, dando oportunidade à pessoa que diante dela se encontrava de levantar
algum tema, pois estava sempre disposta a conversar a respeito do que o outro
quisesse. Era uma excelente ocasião para se apreciar o modo harmonioso com que
ela abordava os assuntos. Fazia-o de maneira a atender, acima de tudo, aos
legítimos anseios do visitante.
Naquelas
ditosas e inesquecíveis conversas com Dª Lucilia, era freqüente o visitante
perguntar-lhe algo a respeito de seus filhos, pelo extremo gosto de ouvi-la
discorrer sobre acontecimentos da vida familiar. Tema, aliás, não lhe fosse
proposto, ela jamais tomaria a iniciativa de sequer insinuar.
Saudosos
meses aqueles, durante os quais foi possível conhecer um bom número de fatos da
longa existência de Dª Lucilia, narrados diretamente por ela. O que mais atraía
o interlocutor eram os detalhes da infância dos filhos dela, pois permitiam
aquilatar o grande esmero que ela pusera em os educar e formar.
Transcrito, com adaptações, da obra
“Dona Lucilia”, de Mons. João Clá Dias
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