Continuação do post anterior
Logo
ao iniciar-se a convalescença de Dr. Plinio, um de seus jovens discípulos teve
a felicidade de ser escolhido para cuidar do plantão estabelecido no “1º
Andar”. Um dia, acabara ele de atender a uma chamada telefônica, quando ouviu,
vindo da sala de jantar, o som de uma sineta.
Pouco
depois lhe chegavam os ecos de um pequeno diálogo entre Dª Lucilia e a
empregada:
—
Pois não, a senhora me chamou?
—
Quem telefonou?
—
Não sei, Dª Lucilia. Foi um senhor que atendeu.
—
Quem é esse senhor?
—
Não sei. Parece que ele veio visitar o Dr. Plinio.
—
Vá preparando um chá para esse senhor e para mim, pois vou convidá-lo a estar
em minha companhia até o Dr. Plinio despertar.
Tendo-se
retirado a empregada, Dª Lucilia continuou suas orações. Era compreensível que,
sendo dona da casa e dotada de profundo senso de responsabilidade, se sentisse
na obrigação de fazer sala aos que visitavam seu filho.
Algum
tempo depois, voltou a soar a sineta e a empregada, ao assomar à porta, ouviu
de Dª Lucilia:
—
Você quer dizer a esse senhor que faça o favor de entrar?
Logo
que ele se apresentou, Dª Lucilia o cumprimentou de maneira acolhedora, e assim
introduziu a conversa:
—
O senhor certamente está esperando o Plinio, não é? Eu queria dizer ao senhor o
seguinte: ele tem uns amigos que o estimam muito e, às vezes, convidam-no para
passarem juntos alguns dias numa fazenda, perto de Amparo. E o senhor sabe?
Estando ali, o Plinio andava por um terreno irregular e muito pedregoso, quando
torceu o pé. Ele foi socorrido pelos amigos, mas os médicos que depois o
examinaram recomendaram-lhe muito descanso...
Após
essa explicação, Dª Lucilia, com sua arte de colocar o visitante inteiramente à
vontade, prosseguiu:
—
Por esse motivo, o Plinio vai demorar ainda um pouco para atendê-lo, de maneira
que o senhor vai ter de esperar mais do que imaginava... Mas o senhor, enquanto
o aguarda, vai me dar o prazer de sua companhia. O senhor aceitaria tomar chá?
—
Por favor, a senhora não se deve preocupar!
—
Talvez o senhor não goste de chá e prefira café com leite, ou alguma outra
coisa...
Não
foi possível ao jovem recusar. Dona Lucilia tocou então a sineta e ordenou à
empregada que trouxesse chá e biscoitos.
Esta
cena — evocativa da antiga douceur de
vivre — doravante irá repetir-se todos os dias. Dona Lucilia empregará, de
cada vez, aquele seu invariável e delicado modo de acolher.
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