segunda-feira, 26 de maio de 2014

Uma surpresa e um encanto de alma

Conforme pudemos verificar pela narração da história de Dª Lucilia, durante sua longa existência permaneceu ela quase sempre recolhida na respeitável atmosfera do lar, como fiel cumpridora dos deveres de uma dona-de-casa católica fervorosa.
Com seu filho se dava exatamente o contrário. Por exigências de suas numerosas atividades apostólicas e profissionais, ele era obrigado a permanecer muito pouco tempo em seu ambiente familiar. Mas, com a doença, viu-se forçado a passar cinco meses convalescendo entre as paredes de seu apartamento.
Logo começou a receber um inusitado número de visitas de admiradores e amigos, e assim, seu estado de saúde acabou por proporcionar muitos encontros fortuitos com Dª Lucilia de pessoas até então alheias às relações dela.
Conhecida e admirada
Naquele findar de 1967 e primeiros meses de 1968, esses visitantes que passaram a freqüentar a casa de Dr. Plinio tiveram oportunidade de observar o invariável modo de proceder de Dª Lucilia, resultante não só da fidelidade a hábitos de outrora, mas sobretudo do cultivo das virtudes cristãs em sua alma tão amante da Fé e das tradições. Muitos anos depois, em carta a um matutino paulista, Dr. Plinio relatava sucintamente o maravilhamento daqueles que então foram objeto da gentil e encantadora acolhida de sua mãe:
Como é notório, até o ano de 1967 constituíram compartimentos inteiramente estanques meu lar, onde vivia na suave dignidade da vida privada a tradicional dama paulista da qual me honro de ter nascido — e de outro lado os meus valorosos companheiros de ação pública. A tal ponto, que apenas uma meia dúzia deles freqüentava minha casa, e para todos os demais minha Mãe era uma desconhecida, ou quase tanto.
No ano de 1967, adoeci com sério risco de vida, e minha residência se encheu naturalmente de amigos. Profundamente aflita, a todos recebia minha Mãe, já então com a avançada idade de 92 anos. Nesse difícil transe ela lhes dispensava uma acolhida na qual transpareciam seu afeto materno, sua resignação cristã, sua ilimitada bondade de coração e a encantadora gentileza dos velhos tempos da São Paulo de outrora. Para todos foi uma surpresa e, explicavelmente, também um encanto de alma. Durou assim este convívio por longos meses.
O abalo físico sofrido por Dr. Plinio deu azo, portanto, a que Dª Lucilia fosse conhecida mais de perto e, por que não dizê-lo, admirada. As incontáveis facetas morais da mãe ideal ali estavam ao alcance da observação de todos, convidando-os a fazer parte daqueles “mil filhos” pelos quais seu coração transbordante de benevolência anelava.

Continua no próximo post

domingo, 18 de maio de 2014

Para que seu filho não sentisse tanto sua morte

Ao mesmo tempo que dispunha suas coisas para a derradeira viagem, Dª Lucilia desejava também preparar seu filho para a dolorosa separação. Alguém lhe dissera que Dr. Plinio ficaria chocadíssimo com sua morte, e lhe aconselhara diminuir as manifestações de afeto para com ele, a fim de que não sentisse tanto sua falta.
Dona Lucilia deixou-se convencer pelo argumento e, dominando seu enorme benquerer, retraiu um pouco seus carinhos. Esse propósito, ela o cumpriu com uma precisão comovedora. A este píncaro de abnegação se elevou sua alma materna!
Só pouco tempo antes de morrer, ela contou a Dr. Plinio que estava agindo desse modo em virtude do conselho recebido.

Nesta atitude, quanta calma, quanta segurança! Os vagalhões que a assaltaram em nada tinham penetrado seu tabernáculo interior: ela estava se preparando para o Céu.
Transcrito, com adaptações do livro “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias

domingo, 11 de maio de 2014

Filiais cogitações... sem resposta

Um dia em que Dr. Plinio jantava só com sua mãe, embevecendo-se com as palavras, os gestos e a atitude dela, uma singular consideração lhe passou pelo espírito. Emocionado, ele recordará:
O melhor não estava na conversa... Estava na presença dela! E, portanto, eu mantinha a prosa quase por polidez, para poder me regalar com sua presença. Passou-me de súbito pela mente esta reflexão: como as circunstâncias do mundo de hoje tendem a tornar cada vez mais raro que haja mãe e filho que se queiram tão bem como nós dois! E como é difícil haver mãe como ela!
Lembrei-me, então, do convívio que tivéramos tantas vezes naquela sala. Dada a raridade desse relacionamento, desse ambiente, naturalmente me veio ao espírito o seguinte: qual será o desígnio da Providência a respeito de nós dois? Aqui está uma sala onde estamos, a sós, uma velha mãe e um filho, homem já maduro. Passa-se rapidamente da maturidade para a velhice, e desta para a morte. O tempo traga tudo. Não acontecerá que antes do período normal a Providência determine de nos levar embora, tirar-nos desta vida, a ela e a mim? E assim os fatos se passarem como se um tufão entrasse nesta sala de jantar e nos arrastasse?
E então se extinguiria este último torrãozinho onde, como em poucos lugares do mundo de hoje, havia um filho que queria sua mãe tanto quanto podia, e a mãe o merecia com uma abundância e uma amplitude difíceis de calcular... E uma mãe que queria bem a seu filho com todo o coração.
Esta salinha de jantar é um dos poucos torrõezinhos no qual Nossa Senhora ainda conserva um resto de seu reinado sobre os corações. Neste mundo em que tudo quanto é d’Ela vai sendo destruído, será que a Providência permitirá dissolver-se ao vento também tais torrõezinhos?...
Enfim, cogitações mais ou menos melancólicas como estas me passavam pela mente, e para elas eu não tinha resposta...

Transcrito, com adaptações da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias

domingo, 4 de maio de 2014

A última caixa de gravatas oferecida a seu filho


Passando um dia pelo corredor do apartamento, Dr. Plinio notou que sua mãe estava no escritório redigindo algo, sentada à escrivaninha. Tratava-se da “surpresa” que ela preparava para mais um aniversário do “filho querido de seu coração”.
Vencendo as dificuldades naturais da avançada idade, Dª Lucilia escreveu uma última dedicatória para Dr. Plinio, no papel de seda da caixa de gravatas que ela lhe daria de presente. Linhas traçadas com muito esforço, no qual entrava um enorme afeto, e o desejo de uma alma delicada de fazer tudo bem feito e com senso do dever.
Mais. Aquele gesto traduzia sua admiração por Dr. Plinio, a ilimitada confiança que nele depositava, seu incansável desejo de lhe agradar e o reconhecimento do quanto seu filho lhe era dedicado.
Enlevado com tal cena, Dr. Plinio não deixou sua mãe perceber que ele a observara e, após receber o presente, conservou a dedicatória como preciosa lembrança daquele incomparável amor materno. Eram estes os dizeres: Lembrança de Mamãe ao filho querido!!  

Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João Clá Dias