segunda-feira, 13 de julho de 2015

Incomparável intérprete da Santa Igreja (cont)

Continuação do post anterior
Intransigente quanto aos princípios
Dela também aprendi a intransigência, pois ela a tinha muito. Sua irmã mais nova, chamada Zili, costumava dizer que ela era uma “teimosa mansa”. Nunca ela era teimosa com coisas pessoais, pois quando era algo de interesse próprio ela cedia com toda facilidade. Porém, quando se tratava de defender um princípio, ela era implacável!
Mestra da admiração ao próximo
Também ela me ensinou o modo de admirar as pessoas. Era muito raro ela fazer um comentário malévolo em relação a alguém. Criticar alguém por ter adotado uma posição revolucionária era muito incomum; via-se que ela tomava atitude de descontentamento, mas só a vi criticar alguém quando era para abrir meus olhos ao mal que essa pessoa poderia me fazer.
Nobilitada pelos sofrimentos
Dentre todos esses exemplos que via nela, o que mais estava acentuado era sua atitude diante da dor.
Sua vida foi muito cheia de sofrimentos. Já moça, tardou muito em se casar; o normal era que toda moça se casasse, e cedo.
Ela temia que, morrendo o pai dela, a vida da família toda mudasse e ela ficasse como uma solteirona, o que naquele tempo era uma coisa inconcebível. Ela chegou a pensar em ficar freira, mas ela não tinha verdadeira vocação religiosa. Meu avô disse isso a ela, mas deixou-a livre para escolher. Mas a confiança que ela possuía no pai fazia com que sua opinião fosse decisiva.
Após ter se casado, durante muito tempo viveu entre a vida e morte, a tal ponto que teve que ir à Alemanha para submeter-se a uma dolorosa e arriscadíssima operação. Diante de todos os sofrimentos, ela aceitava a dor como sendo um fator que enobrece a vida. Para ela, quem não sofreu não viveu, pois o normal da vida é sofrer, e fazê-lo com paz, suavidade e ânimo. Ser derrotado nos acontecimentos da vida não é nada se, dentro desses acontecimentos, se toma as atitudes que devia, enfrentando-os sem se incomodar. A aceitação desses sofrimentos, de fato, trouxe para ela uma extraordinária nobilitação, dando-lhe, no fim da vida, o aspecto de uma matriarca sumamente venerável, respeitável e doce, que encantava todos que a conheciam.
Perfeita contrarrevolucionária tendencial
Outro aspecto da formação que recebi de Dona Lucilia é o seguinte: por causa dessa elevação de alma dela, eu me dei conta de que se eu aceitasse qualquer dos postulados da Revolução, que iam surgindo, eu tomaria, pela lógica que há nas coisas, uma posição de alma contraria à elevação de espírito dela. Ainda quando se tratasse de matérias, princípios e problemas que ela nem sequer conhecia. Mas a alma dela era tal que, como que, vivia por cima de toda esta temática, e embora não a conhecesse inteiramente, por eminência continha a Contra-Revolução.
Desta forma era incompatível com aquela elevação que havia na alma dela quem aderisse à Revolução; e mesmo quando se aceitasse somente algumas de suas teses, isso pressupunha uma fratura com o estado de espírito de Dona Lucilia. Vista por esse ângulo, a Contra-Revolução estava presente nela.
Esta elevação de espírito que havia em Mamãe teve grande papel no fato de eu rejeitar as tendências revolucionárias que surgiam.
No campo das ideias nunca vi Mamãe aceitar uma posição revolucionária, mas ela não as compreendia com toda a profundidade, mas tendencialmente Dona Lucilia foi profundamente contrarrevolucionária.  

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 29/11/1981