O tema da conversa
dela (Dona Lucilia) comigo era muito caseiro. Era mais o trato dela comigo. Ela
tinha a mentalidade de uma dona de casa do tempo da mãe dela. No trato era
enormemente as tais conversas silenciosas. Quando presentes outras pessoas e
saía uma conversa mais alta, ela ficava quietinha, e prestando muito atenção.
Quando ela perdia alguma coisa por não ouvir bem e não compreender bem, ela
pegava só os imponderáveis.
Mas o convívio era
totalmente esse. E é deste convívio que o apartamento está cheio. E eu moro lá
e não sei viver sem senti-lo. Eu entro lá, penso que ela está a 2 passos de
mim. É um modo qualquer de dizer “mãezinha, vamos almoçar?”, e o modo dela
dizer que queria, e depois irmos juntos, que eram impregnados de alguma coisa
que não sei qualificar.
Por exemplo, quando
a comida vinha um pouco quente, ela queria esfriá-la. Comia primorosamente bem
na mesa. Ela nunca se sujava, nunca ela cortava por exemplo o macarrão,
suspendia um pouco acima e virava um pouquinho o garfo discretamente, enquanto
conversava. A delicadeza do gesto de virar, que não era uma delicadeza social
só que havia, mas junto a esta existia uma delicadeza de alma no tratar o
macarrão, etc. — ela era a dona de casa feita para o lar, para a delicadeza —
soprava um pouquinho o macarrão e olhava para ver se deitava fumaça ainda, e,
se saía ainda um pouquinho, ela soprava um pouco mais, quando conversava. Nunca
ela punha o macarrão na boca antes de estar no ponto. Nunca acontecia em que
tinha de colocar água junto porque estava quente, coisas grotescas destas,
etc., nunca aconteciam. Pegava tudo com naturalidade, com suavidade, e por cima
das harmonias de alma.
Plinio Corrêa de Oliveira - relato de uma conversa 1976