À
semelhança das senhoras de seu tempo, mamãe usava uma pulseira de marfim com
incrustações, vinda da Europa. E eu, aos doze ou treze anos, brincando com o
braço dela — não sem alguma brutalidade inerente aos meninos que vão se
tornando mais velhos —, girava a pulseira, e, sendo o marfim um material muito
duro, machucava-a um pouco. Não se tratava de nada muito grave, mas, sendo a
pulseira muito dura, isso fez uma mancha escura num ponto de seu braço. E ela
não se queixou de nada; em vez de se zangar — porque uma mancha dessas é feia,
uma senhora não gosta de ter isso —, ela ficou encantada.
Certo
dia, quando almoçávamos em casa de minha avó, onde morávamos, uma pessoa da
família perguntou para ela:
—
Lucilia, o que é esta machucadura em seu braço?
Ela olhou
— para ter tempo de pensar — e depois disse com muita naturalidade:
— Isso
foi um agrado do Plinio.
Foi uma
gargalhada geral na mesa, gargalhada afetuosa, mas que mexia com ela. Era tal o
encanto dela por mim, que até quando eu, involuntariamente, a machucava, ela
ficava maravilhada.
Mesmo
quando eu era importuno, a mansidão de mamãe a fazia ficar ainda mais
encantada; e isso me deixava enlevadíssimo por ela.
A
harmonia afetuosa e grandiosa que ela exprimia, fazia-me pensar: “Ela é
formidável, acima de qualquer pessoa que eu conheço. Eu vejo tantas pessoas em
torno dela, pessoas muito boas, mas ninguém tem essa virtude extraordinária,
essa harmonia de personalidade, essa lógica e esse afeto contínuo que ela tem.”