quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Harmoniosa vida conjugal

Havendo acompanhado por mais de 50 anos o convívio de pais, Dr. Plinio podia dar o testemunho de nunca haver presenciado uma desavença entre eles. Nunca uma palavra áspera ou um levantar de voz, nem tampouco uma bravata ou um gesto de mal-humor.
 “Dr. João Paulo era o mais pacífico e cordato dos homens”, contava Dr. Plinio, “e Dª Lucilia, uma senhora boníssima. Ele morreu com 84 anos e ela, com 92. Portanto, longa vida conjugal.
“Claro, às vezes eles entravam em desacordo e discutiam. Ambos eram pessoas inteligentes, e apresentavam argumentos apertados de parte a parte. Porém, o máximo que acontecia, quando meu pai ficava com os nervos um pouco mais tomados, era ele dizer para mamãe: ‘Senhora, mas esta opinião?!’ Parece que é comum no Nordeste o marido zangado chamar a esposa de ‘senhora’. Não era uma atitude de desaforo, mas quase uma cortesia.
“Por sua vez, mamãe tinha um modo característico de levantar a cabeça e contestar. Usava um penteado em forma de coque, e um certo jeito de movê-lo era sinal de desacordo. Manifestando-se às vezes dessa maneira, ela dizia: ‘Não, João Paulo, eu não acho isso...’
“Acima dessas minúsculas e inevitáveis desavenças, mamãe devotava a seu marido o respeito e a obediência que se deve esperar de uma esposa verdadeiramente católica, de maneira que ela nunca teria feito nada que fosse do desagrado dele.
“A única circunstância em que ele se impacientava — para o bem de mamãe — era quando ela, à medida que foi avançando em idade, em vez de se deitar, ficava rezando até altas horas da madrugada. Como pernambucano, habituado a se recolher cedo, papai assustava-se com aqueles horários tardios, julgando-os prejudiciais à saúde da esposa. Então, quando o relógio batia uma hora, uma e meia da manhã, ele às vezes se levantava da cama e se dirigia até a sala onde ela se encontrava imersa nas suas orações.
“Cena por mim presenciada em diversas ocasiões: papai se detinha um pouco atrás dela; mamãe percebia a presença dele mas não se voltava, continuando a rezar. Ele dizia:
“— O que é isto, senhora?! Já são quase duas horas!
“Ela não se importava, fazia-lhe um pequeno sinal, amável, como quem diz: “Já estou indo”, mas acabava por rezar tudo o que ela queria...

“Às vezes ele retornava, insistia, e mamãe então encerrava suas orações, acompanhando-o para o quarto.”
Continua

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Profundo senso do dever doméstico

Continuação do post anterior
No âmbito da vida de família, Dª Lucilia considerava seu dever proporcionar bem- estar, alegria e elevação de alma ao ambiente para seu marido, e formar os filhos de maneira a serem perfeitos católicos e cumprirem sua missão nesta terra. Para isto, devia marcar o lar doméstico com uma afabilidade e um afeto pelos quais ele se tornasse atraente, e fosse um meio de disputar a influência aos antros de perdição. Além disso, habituar os filhos que tivessem tomado essa tradição, a formar depois as respectivas proles na mesma escola, perpetuando tais costumes ao longo das gerações, porque assim se devia viver.
Ela era recolhida, tranquila, forte e meiga em todas as circunstâncias da vida. Estas podiam mudar, e ela mantinha sempre idêntico estado de espírito, por trás do qual palpitava seu entranhado senso do dever.
Profundamente católica, Dª Lucilia não entendia que a finalidade do homem neste mundo fosse conquistar honras, prazeres, glórias e dinheiro, para se deleitar o mais possível e depois estourar de morto. Havia, sem dúvida, satisfações e tristezas no existir humano. Devia-se, até, tirar partido dos prazeres lícitos para suportar as tristezas. Para ela, porém, a vida era antes de tudo um dever a cumprir, em ordem a formar a própria alma segundo os desígnios de Deus. Ou seja, com vistas à santificação e à salvação eterna.

Dever que ela procurou realizar, de forma exímia, em sua condição de esposa modelar e de extremosa mãe.
Continua