quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Palácio de seriedade materna

Segundo a mentalidade revolucionária, a seriedade faz o papel de algemas para o espírito; por isso, é preciso passar a vida brincando. Bem o contrário disso era Dona Lucilia. Convivendo com ela, percebia-se a superioridade, o senhorio e as suavidades da seriedade. 
Vejamos os comentários de seu filho Plinio Correa de Oliveira.
O papel de mamãe em incentivar minha apetência pelo maravilhoso, pelos absolutos, verificou-se mais por seu modo de ser do que pelas palavras. Certamente teve muita importância o que ela dizia, mas isso servia mais para explicitar e corroborar o que ela era, do que pelo valor conclusivo de suas palavras.
Bem-estar na seriedade
É preciso tomar em consideração que Dona Lucilia era uma dona de casa. E acabou tendo um filho superanalítico e superamigo de esgravatar as coisas: “Como é? Como não é? Por quê? Que relação tem tal coisa com tal outra?” Tudo muito explicitamente. É normal; o feitio espiritual masculino é diferente do feminino. E eu gosto de ir ao fundo dos problemas, explicitando como eles se vinculam, se articulam, analisando-os e procurando elaborar um quadro geral. É o pendor de minha alma.
E as palavras cheias de sabedoria e de afeto que ela dizia, analiticamente não possuíam um valor nem a matéria-prima para isso. De maneira que um conselho dela tinha toda a suavidade, toda a importância do conselho de mãe, mas não o alcance da flecha atirada que se crava na meta e fica ainda tremendo. É natural!
Nesse sentido, a ação de Dona Lucilia não pode ser comparada, por exemplo, à que tiveram sobre mim os jesuítas. Eu analisava o que eles diziam, assimilava, me apaixonava e pensava: “Agora, está bem. Vamos para frente!”
Então, com mamãe de que modo isso se dava?
Por ser o espírito dela inteiramente voltado para esse absoluto, havia nela certa forma de estabilidade, de continuidade, de seriedade e de bem-estar na seriedade.
Para as gerações posteriores à minha, a palavra “seriedade” soa um pouco como o termo “masmorra”. A seriedade parece uma prisão.
Impostação da alma de Dona Lucilia face ao Absoluto
Mamãe fazia entender que a seriedade era um Céu. Os mil bem-estares do Paraíso eram os aposentos, os palácios da seriedade. Não que Dona Lucilia dissesse isso, mas convivendo com ela percebia-se a superioridade, o senhorio e as suavidades da seriedade. A alma dela era um palácio de seriedade materna, com todo o valor da palavra materna, nem preciso encarecer.
No modo de falar, de andar, no timbre de voz, nas menores coisas isso transparecia com coerência, com harmonia e sem a menor intenção de se fazer notar. Aliás, no “Quadrinho”1 vê-se bem: no modo dela estar ali transparece toda a seriedade, mas também a paciência, a bondade, a dignidade. Mas tudo resultava dessa impostação da alma face ao Absoluto.

É inútil dizer que tudo isso eu notava, e concorreu muito para evitar que argumentos brumosos, lançados pela Revolução contra a seriedade, tomassem corpo no meu espírito: “A seriedade é igual à carranca, à malevolência, à ausência de psicologia, é como algemas para o espírito, não se pode suportar, etc.” Para essa mentalidade, viver ou é brincar ou fica-se sufocado. Portanto, é preciso estar sempre brincando. Mil coisas horríveis como essas, a presença de Dona Lucilia já descartava como pressupostamente erradas.
Continua no próximo post.