segunda-feira, 1 de junho de 2015

Incomparável intérprete da Santa Igreja

Dona Lucilia agia nas tendências de seu filho de maneira que, mais tarde, este pudesse explicitar a verdade. Vejamos uma descrição dada por seu filho Plinio Correa de Oliveira.
Quando meus olhos começaram a se abrir para a Igreja Católica, pelo favor de Nossa Senhora, vi desde logo que ela era divina e infalível, e aceitei-a como tal.
Nessa compreensão Dona Lucilia teve um importante papel, pois percebendo inúmeras afinidades entre a alma dela e o espírito da Igreja eu compreendi muita coisa da Igreja por aquilo que eu conhecia de Mamãe.
Também logo se tornou claro em meu espírito que o padrão da verdade não era Mamãe, mas sim a Igreja. Porém, muitas das explicações sobre a Doutrina da Igreja eu entendia porque interpretava à luz do que eu via em Dona Lucilia e aprendia dela. Quer dizer, ela foi uma intérprete incomparável da Igreja para mim. das mães, o qual ela cumpriu eximiamente.
Cumprido o maior dever de mãe
Minha seriedade de alma se deve em larga medida a ela. Caso eu não tivesse conhecido a Igreja, eu teria jogado isso tudo pelo caminho. Pois foi a Fé que me robusteceu nisso, espero em Nossa Senhora que definitivamente.
Mas, se a Fé teve tanta eficácia foi porque — como uma mãe ideal — Dona Lucilia preparou-me de modo incomparável para recebê-la. Este é, segundo a Doutrina Católica, um dos mais importantes deveres das mães, o qual ela cumpriu eximiamente.
Modelo de verdadeira amizade
Dentre as inúmeras coisas que aprendi dela, estão as seguintes: A prestatividade é um dos sinais da amizade, mas não é sua substância. A substância da amizade é a atração cheia de benevolência, produzida pela semelhança. Semelhança que deve ser segundo Deus, do contrário é inútil. Esta semelhança produz uma afinidade e uma benevolência que se explicam pelo princípio: “omnes ens apetit sum esse” — cada ser ama seu próprio ser — e, portanto, ama aquilo que é semelhança dele. Esta benevolência comporta uma ternura e um afago que levados a fundo, como era levado entre ela e eu, podem chegar a um grau supereminente que desabrocha em compaixão e paciência.
A compaixão, por sua vez, leva à contemporização e ao perdão. Foi por ela que Santa Mônica, apesar dos maiores desatinos do filho, não deixou de querê-lo bem e esperar seu retorno como o do filho pródigo. Essa benevolência, não basta descrever teoricamente para compreendê-la; é preciso tê-la sentido.
Não pude deixar de lembrar-me de Mamãe quando li a afirmação de que Santa Teresinha considerava a amizade uma coisa tão séria que uma vez que ela a tinha dado a uma pessoa ela não rompia nunca. Ainda quando o outro lado rompesse, ela conservava suas disposições benévolas intactas, para o caso de o outro lado abrir-se de novo.
Essa longanimidade e paciência existiam em Dona Lucilia num grau inimaginável. Nela eu nunca vi cólera, ressentimento, desejo de vingança, alegria pelo mal ocorrido a alguém que a tivesse feito algum mal individualmente. Pelo contrário, o que sempre notei nela era uma completa equanimidade, não só para com as pessoas que tivessem feito mal a ela, mas também — o que para ela era mais grave — para os que tivessem feito mal a mim.
Se alguém tivesse relações muito respeitosas e cordiais com ela, mas cometesse contra mim as maiores injustiças, e depois a procurasse, ela o trataria como tratava na véspera: com tristeza, manifestando-se triste com ele, mas com o mesmo espírito afável, bondoso e acolhedor.

Este seu estado de espírito era tal que creio que se hoje, por absurdo, essa pessoa passando diante da sepultura dela encontrasse alguém rezando lá e lançasse contra ele toda espécie de injúria, eu não tenho a menor dúvida de que ela pediria a Nossa Senhora que desse uma graça e tocasse a alma dele. Chegando até este extremo de, com muita tristeza, mas com meiguice, ainda querer advogar a causa dele.
Continua no próximo post