quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Formando seus filhos no seio da Igreja

Em relação a seus filhos, Dona Lucilia exercera de modo exemplar seu papel de educadora, dando à religião uma importância primordial. Assim, narra Dr. Plinio, alguns aspectos da formação religiosa que recebeu de sua mãe.
Quando ainda muito novos, minha irmã e eu fomos instruídos no Catecismo por Dona Lucilia.  A fim de nos preparar para a primeira comunhão, ela nos contava a História Sagrada.
Doçura penetrante de carinho
Lembro-me  que,  durante  esta  preparação,  mamãe  falava especialmente da doçura de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Ela nos apresentava esta doçura penetrante de carinho, de afabilidade, de bondade.
Sem dizer explicitamente,  quando  ela  nos falava da bondade d’Ele, dava- nos a  idéia de uma bondade majestosa, a qual supera qualquer majestade terrena.
Em  suas  narrações,  tudo  quanto  Nosso Senhor fazia era de modo sereno, cheio  de significado, medido com uma sabedoria  que transcendia, de longe, qualquer sabedoria criada. Ora ela acentuava a bondade, ora  a superioridade absoluta d’Ele. Porém sempre com uma nota — a qual, aliás, corresponde ao Evangelho — de tristeza. A Paixão nunca estava ausente de suas narrações.
Uma Terra Santa lendária
Ela imaginava a Terra Santa um pouco  lendariamente. Para ela, deserto da Palestina, por exemplo, era como o Saara, quando, na verdade, os desertos da Terra Santa,  senão raras vezes, tem a poesia deste outro. Lembro-me dela pronunciando certos  nomes como “Mar de Tiberíades”. Quando ela dizia “Mar de Tiberíades” eu tinha  a impressão de estar vendo as ondas se formando naquele mar.
Os personagens do Antigo Testamento eram apresentados por ela como profetas grandiosos, menos doces do  que categóricos, de modo que, quando eu vi os profetas  de Aleijadinho, me lembrei dela e pensei: esses são os  profetas dos quais mamãe falava.
As aulas de catecismo
Além das aulas que ela nos dava em casa, providenciou  que o Monsenhor Marcondes Pedrosa, pároco da igreja de  Santa Cecília, paróquia à qual pertencíamos, nos ministrasse aulas de catecismo. Estas aulas eram particulares, só para minha irmã, para uma primazinha que era educada conosco e para mim. De maneira que duas ou três vezes por  semana íamos à paróquia, onde ele nos ensinava o catecismo especialmente. Ela teve sempre muito cuidado nisso.
Entretanto estas não foram as principais contribuições  dela para nossa boa formação. Inscrever os filhos no curso  de catecismo, dar ela mesmo algumas aulas, isto toda boa  mãe fazia. O principal era, entretanto, o que transparecia  no contato com ela. Nesse convívio eu sentia todas as suas  excelências morais que ela possuía: amor, calma, dignidade, afeto, seriedade, etc. Isto me atraía muito.
“Eu prefiro mamãe”
Lembro-me, por exemplo, de um fato que deixa transparecer o quanto eu a admirava e era por ela atraído. 
Certa vez, adoeci e fui obrigado a acamar-me. Estava muito aborrecido por ter de ficar de cama, o que para  uma criança não é nada agradável... 
Mamãe foi visitar-me juntamente com uma irmã dela, tia Zili. As duas se aproximaram de minha cama e minha mãe disse:
“Olha, Zili está com o tempo livre e pode cuidar de  você. Eu também tenho tempo livre, de maneira que você veja qual das duas você prefere.” 
A minha tia era muito mais nova do que ela, muito viva, engraçada, contava coisas interessantes.
Eu me lembro de olhar para as duas e pensar: “vai ser  muito menos pesado recuperar-se ao lado de uma tia que  canta, faz brincadeiras, diz coisas engraçadas, com ela eu  vou ter muita ocasião de rir e isto vai tornar a minha doença mais leve.”
Depois olhei para mamãe, e os olhos de mamãe me  olhavam com uma calma muito plácida.
Eu disse então:
— Tia Zili, a senhora é uma “vice-mãe” para mim,  mas mãe mesmo é mamãe. Eu prefiro mamãe.
Dona Lucilia, fruto da Igreja
Aos domingos, íamos à missa na igreja do Coração de  Jesus. Eu gostava enormemente da igreja. Após entrar e  nos colocar junto ao banco, eu me ajoelhava ao lado dela, o que, aliás, ela gostava muito, e enquanto ela rezava,  eu prestava atenção no ambiente e percebia que havia  uma enorme semelhança, quase uma unidade de espírito, entre ela e o ambiente da igreja. 
E pensava: “Qual! Como ela é semelhante a isto! No  fundo, mamãe é um fruto disto e ela não seria como é se  a Igreja não a modelasse”.
Quando fiquei mais velho compreendi o que é a Igreja Católica. Percebi, então, que a fonte de toda virtude  que pudesse haver em qualquer homem é a Igreja Católica. Concluí que o mal consistia em estar fora da Igreja  ou contra ela. E, todo o bem consistia em estar dentro da  Igreja e quanto mais dentro melhor. 
Vê-se, com isto, que mamãe me conduziu, pelo convívio e exemplo dela, à devoção ao Sagrado Coração de Jesus, à devoção a Nossa Senhora. Ela me ensinou a amar a  Santa Igreja Católica. 

Plinio correa de Oliveira – Extraído de Conferências de 21/9/82 e 25/7/94

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Exemplo de perfeição

Com extrema maternalidade, Dona Lucilia procurava orientar seus filhos para uma vida de perfeição. Dr. Plinio se recorda de fatos do dia-a-dia que deixam transparecer a bondade de sua mãe.
Se houve uma pessoa que me deu todas as formas de exemplos de perfeição, foi Dona Lucilia. Em primeiro lugar pela sua elevação moral. O espírito dela tinha certa tendência, continuamente manifestada, para o que há de mais alto, mais belo, mais delicado.
À noite, após fazer todas suas orações, ela me esperava chegar da rua para trocar mais uma palavrinha comigo. Eu percebia que o tempo decorrido entre o término de suas preces e minha chegada era considerável, às vezes três quartos de hora. Mamãe estava cansada, com sono, mas não queria ir dormir. Não sei no que ela pensava, mas eu notava que seu espírito se desprendia de regiões mais altas do pensamento para descer e conversar comigo.
Espírito impregnado pelo “perfume” da elevação
Imaginem uma pessoa que subisse em uma montanha, no alto da qual houvesse árvores com flores perfumadíssimas, e lá ficasse certo tempo. Quando descesse, seus trajes estariam penetrados do cheiro daquelas flores. Assim, eu tinha a impressão de que seu espírito ficava impregnado do perfume das coisas nas quais ela tinha pensado.
Eu não ia conversar com ela para tratar de algum assunto específico, mas apenas por ser seu filho; era inteiramente espontâneo. E aquilo que me ocorresse e tivesse a vontade de dizer-lhe naquele momento, eu falava. Ainda que fosse uma coisa insignificante, por exemplo, um episódio com o cobrador das passagens de bonde porque ele não tinha troco. Ela entrava naquele assunto, embora fosse minúsculo.
Algumas vezes mamãe me perguntava: “Filhão, o que você fez hoje à tarde após sair do escritório?” Eu lhe contava: fui ao dentista ou ao barbeiro ou a uma loja paracomprar um par de sapatos. Ela prestava atenção e iluminava o assunto pelo espírito dela, fazendo assim que o tema deixasse de ser banal.
Mas não prolongava a conversa perguntando: “Onde estão os sapatos? São bonitos  ou feios?” Normalmente as senhoras se interessam por essas coisas.
Aliás, eu gostava de sapatos bem largos, e a única preocupação dela nessa matéria tão banal era que, sendo folgados demais, de repente me causassem um tombo. Então ela sempre dizia:
— O sapato não é largo demais?
Eu sorria e respondia:
— Para meu gosto não, para o seu é.
— Olha, filhão, você toma um tombo... — Reze por mim — e encerrava o assunto.

Continua no próximo post