sábado, 23 de julho de 2016

Deveres de esposa

No ano de 1905, o Dr. Antônio Ribeiro dos Santos, conhecido advogado em São Paulo, que havia feito boa fortuna, preocupava-se com o futuro de suas três filhas solteiras. Resolveu ter uma conversa séria com a mais velha delas, Lucilia, então com 29 anos.
— Minha filha, se eu morrer sem você se casar, tocar-lhe-á como herança uma boa quantidade de dinheiro. Você, porém, irá ficando madura, e o casamento se tornará cada vez mais difícil. Ora, aqui há esse moço que está trabalhando comigo, o Dr. João Paulo Corrêa de Oliveira, que manifesta o desejo de se casar com você. Não dou ordem, mas aconselho que você se case. Ele tem várias qualidades, entre as quais a de pertencer a uma ilustre família de Pernambuco. É sobrinho do Conselheiro João Alfredo (homem famoso naquele tempo, pois fora presidente do Conselho de Ministros do Império, e assinara a Lei Áurea, de 13 de maio de 1888). Terceiro, é de uma inteligência invulgar, e, portanto, talvez faça fortuna. Insisto, pois, na recomendação de que você aceite a proposta dele.
— Acho que ele é uma pessoa distinta, não tem dúvida, mas eu preciso pensar melhor — respondeu Lucilia.
Dr. Antônio ainda ponderou que o dote a ser levado por ela seria suficiente para o casal encaminhar a vida. Ele era advogado, podia sair-se bem na carreira, e, para ela, casar seria mesmo menos inconveniente do que permanecer solteira.
— Mas penso que talvez fosse melhor eu me tornar freira — volveu Lucilia.
— Bom, talvez... Mas pense bem no que irá fazer. É verdade que casamento traz desilusões, contudo você verá que a vida religiosa as traz igualmente. Reflita com mais vagar sobre o que você deseja antes de decidir.
Lucilia, que nutria um extraordinário encanto e enlevo pelo pai, na mesma hora lhe respondeu:
— Papai, eu sigo cegamente o rumo que o senhor me indicar. O que é mesmo que o senhor aconselha?
— Dado você como é, e como me parece ser o Dr. João Paulo, acho mais acertado casar com ele.
— Está bom, farei conforme os desejos do senhor.
Matrimônio encarado com limpidez de olhar
E a jovem Lucilia cumpriu a palavra. Tornou-se noiva de Dr. João Paulo, e o casamento se realizou pouco tempo depois.
Desde o início, Dª Lucilia encarou o estado matrimonial com saliente candura e limpidez de olhar e, ao mesmo tempo, com elevação de espírito, colocava-se sob o amparo e proteção da Santíssima Virgem para o perfeito cumprimento de seus deveres de esposa e mãe.

 A vida de dona de casa dará maior profundidade ao seu espírito sobrenatural, que tomará contornos mais definidos à medida que problemas, aflições e achaques se multiplicarem. Fiel a seu antigo costume, juntava as mãos, e com os olhos postos no Sagrado Coração de Jesus, implorava, por meio de sua querida Madrinha, Nossa Senhora da Penha, amparo e solução.
Continua