quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Suaves repreensões

Foi o Sagrado Coração de Jesus, sempre pronto a perdoar e acolher o pecador arrependido, o modelo perfeito com o qual Dª Lucilia sempre procurou se identificar. Assim, em suas atitudes, palavras e gestos iam transparecendo de modo crescente, com o correr dos anos, a extrema suavidade e doçura de trato que tanto refulgiram na figura do Divino Mestre.
Já seu filho, exposto a rudes pelejas apostólicas, além da infinita Bondade, adorava de maneira particular a Nosso Senhor enquanto intransigente com o mal que se mostrava empedernido. Essa dualidade de aspectos do Divino Modelo fazia desprender do convívio mãe-filho uma melodia de notas opostas, mas sempre harmônicas. Dr. Plinio era tendente a manifestar categoricamente as próprias opiniões, até nas menores coisas, e Dª Lucilia procurava refrear um pouco este expansivo modo de ser, às vezes por demais contundente segundo os padrões dela.
Certo dia a empregada não acertou na compra da manteiga. Após ter untado abundantemente uma fatia de pão, Dr. Plinio, ao prová-la, logo sentiu um gosto desagradável, indicativo de que o alimento não estava fresco.
Dª Lucilia, que punha todo empenho em lhe proporcionar um cardápio de acordo com sua preferência, estava sempre atenta às reacções dele, e percebeu de imediato sua repulsa.
— Meu bem — disse ele — essa manteiga que a empregada comprou não serve nem para engraxar os trilhos dos bondes!
Dª Lucilia ficou com a fisionomia um tanto penalizada. Mesmo em se tratando de um alimento de qualidade inferior, não era bondoso um comentário tão forte, segundo seus critérios.
Mas, como admoestar um filho já homem feito, professor universitário? Era uma situação para a qual só ela podia encontrar uma boa saída. Estando sentada à mesa, ao lado dele, tocou-lhe suave e repetidamente com a ponta dos dedos no dorso da mão, como que a lhe dizer: “Meu filho... Meu filho!...” O macio dos toques, o sedoso da pele, reflexos de seu modo de ser, transmitiam uma censura que inundava a alma dele de doçura.
E sempre que Dr. Plinio dizia o que pensava a respeito deste ou daquele, Dª Lucilia, quando não tinha mais como defender o atingido — por ser indefensável — apelava para este último e mudo recurso: discretos toques no dorso da mão dele.

Era bem provável que Dr. Plinio tivesse vontade de acrescentar outro comentário, para que ela lhe proporcionasse mais uma suave repreensão...
Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias

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