quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Serenidade na alegria e na dor

A impostação de uma alma diante da normalidade da vida quotidiana prepara-a para os momentos de alegria, bem como para os de sofrimento. Assim se dava com Dona Lucilia, serena na alegria, mas também na provação.
Dona Lucilia tinha um temperamento eminentemente sereno. Mesmo quando algo lhe transmitia uma especial alegria, ela não perdia a tranquilidade, hauria  esta  serenidade  que  depois se estendia para os momentos de dor e sofrimento. Nestas ocasiões, sua reação não era distinta da que ela teria nos dias  comuns. Pois ela amava Nosso Senhor Jesus Cristo, e se Ele tanto  sofreu sem  nunca  reclamar, conservando  inteira  serenidade,  também ela deveria ser desta forma.
As pequenas alegrias preparavam-na para conservar a serenidade diante da dor
Desta  forma,  todas  as  suas  pequenas  alegrias  ao  longo  de  cada  dia preparavam-na para conservar-se serena diante de sofrimentos futuros. 
Por  exemplo,  num  dia  comum,  agradável  e  tranquilo  —  como  era  normal  na  São  Paulinho  daqueles tempos —, ao aproximar-se a hora do retorno de seu filho Plinio do colégio, ela sempre  ficava um pouco preocupada, com receio de que lhe acontecesse algo pelo caminho. Sobretudo por ser ele um  pouco  distraído,  ela  temia  que  um  automóvel o atropelasse. Por isso, ela permanecia no terraço andando um pouquinho e tomando ar, muito  serena, apesar de preocupada.
Em certo momento, ela via o portão se abrir e ele entrar. Quando ele  percebia que sua mãe estava lá, tirava  o chapéu e a cumprimentava, depois  ia  correndo  falar  com  ela.  Mas,  às  vezes, ele não a via e entrava direto.  Nestas ocasiões, ao vê-lo  entrar, ela deveria sorrir serenamente e dizer: “O meu filhão chegou.” Era um fato inteiramente  normal,  mas ela o vivia dentro de uma atmosfera religiosa, a qual fazia de uma simples chegada uma causa de felicidade para ela. Nestas alegrias suaves e tranquilas, ela encontrava a serenidade e a paz para sua alma.
Assim,  quando ele  chegava  junto dela, não encontrava nenhum resquício da preocupação que tinha há  pouco, pois a primeira impressão de sua chegada bastava para a tranquilizar.  E, aproximando-se dela,  ela dizia suavemente: “Filhão, como vai?”
“Sua serenidade me tranquilizava”
À noite, quando seus filhos  já estavam dormindo, Dona Lucilia passava pelo quarto deles e fazia várias cruzinhas em suas frontes, pedindo a  Deus que os abençoasse.  
Algumas vezes, acontecia de Plinio  acordar nessa hora, mas, ainda que   não  despertasse  inteiramente, percebia tratar-se de sua mãe; então,  dormia ainda mais contente e tranquilo, por saber que aquela serenidade havia pousado sobre ele.
Assim era Dona Lucilia: suave e  afetuosa, até mesmo à noite! 
Calma e serenidade em meio aos dissabores
Dona Lucilia conservava  esta  serenidade até mesmo nos momentos mais difíceis. Em todas as dificuldades, ela nunca se portava com agitação ou torcida.
Depois  do  primeiro  impacto  de  um revés qualquer, ela pensava um  pouco e dizia: “Bom, eu vou fazer isto, falar aquilo, resolver de tal forma.” Planejava tudo, e depois, com toda a tranquilidade, começava a execução do plano.
Este estado de espírito, no fundo,  era uma plena confiança em Deus,  que  a  levava  a  pensar  o  seguinte: “Por mais que nos advenham os piores infortúnios, Deus permitiu, e, portanto, é para o nosso bem. Estes sofrimentos são o ornato da vida.” Assim ela via o sofrimento, com inteira serenidade, sabendo que tudo acontece por uma razão mais alta que está em Deus.
Jesus sofredor, modelo de serenidade seguido por Dona Lucilia
Para  conservar  esta  serenidade,  concorriam as Vias Sacras  que ela rezava na Igreja do Sagrado  Coração de Jesus, diante de estações  não muito artísticas, porém sérias e  piedosas. Em cada uma das estações  está representado um sofrimento de  Cristo durante sua Paixão. Em todos  eles,  Nosso  Senhor é  apresentado  com uma enorme serenidade e tranquilidade, por mais que sejam enormes seus sofrimentos. Ele sofre, sabendo que tem de sofrer, e por isso não toma aquilo como sendo algo  extraordinário e inconcebível.
Frei Pedro de Cristo, ao compor uma canção que diz “Ojos claros serenos, si pues morís por mi, miradme al menos — olhos claros serenos, se  morreis por mim, olhai-me pelo menos”, acertou enormemente. Pois, de  fato, se Aquele que, em meio a tantos sofrimentos, conservou tal serenidade,  pousasse  o  olhar  sobre  alguém, isto bastava para infundir-lhe  a mesma paz.
Dona Lucilia várias vezes parava diante  da imagem do Sagrado Coração de Jesus, olhando-O durante longas horas,  talvez tenha recebido d’Ele um olhar,  que bem pode ter sido a causa de haver nela tanta serenidade. Algo semelhante dava-se  com  Dona  Lucilia: quem se aproximava dela recebia algo desta serenidade que, em última análise, vinha de Cristo Nosso Senhor.  

Transcrito com adaptações da conferência de Plinio Correa de Oliveira de 11/03/1995

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