quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Exemplo de perfeição

Com extrema maternalidade, Dona Lucilia procurava orientar seus filhos para uma vida de perfeição. Dr. Plinio se recorda de fatos do dia-a-dia que deixam transparecer a bondade de sua mãe.
Se houve uma pessoa que me deu todas as formas de exemplos de perfeição, foi Dona Lucilia. Em primeiro lugar pela sua elevação moral. O espírito dela tinha certa tendência, continuamente manifestada, para o que há de mais alto, mais belo, mais delicado.
À noite, após fazer todas suas orações, ela me esperava chegar da rua para trocar mais uma palavrinha comigo. Eu percebia que o tempo decorrido entre o término de suas preces e minha chegada era considerável, às vezes três quartos de hora. Mamãe estava cansada, com sono, mas não queria ir dormir. Não sei no que ela pensava, mas eu notava que seu espírito se desprendia de regiões mais altas do pensamento para descer e conversar comigo.
Espírito impregnado pelo “perfume” da elevação
Imaginem uma pessoa que subisse em uma montanha, no alto da qual houvesse árvores com flores perfumadíssimas, e lá ficasse certo tempo. Quando descesse, seus trajes estariam penetrados do cheiro daquelas flores. Assim, eu tinha a impressão de que seu espírito ficava impregnado do perfume das coisas nas quais ela tinha pensado.
Eu não ia conversar com ela para tratar de algum assunto específico, mas apenas por ser seu filho; era inteiramente espontâneo. E aquilo que me ocorresse e tivesse a vontade de dizer-lhe naquele momento, eu falava. Ainda que fosse uma coisa insignificante, por exemplo, um episódio com o cobrador das passagens de bonde porque ele não tinha troco. Ela entrava naquele assunto, embora fosse minúsculo.
Algumas vezes mamãe me perguntava: “Filhão, o que você fez hoje à tarde após sair do escritório?” Eu lhe contava: fui ao dentista ou ao barbeiro ou a uma loja paracomprar um par de sapatos. Ela prestava atenção e iluminava o assunto pelo espírito dela, fazendo assim que o tema deixasse de ser banal.
Mas não prolongava a conversa perguntando: “Onde estão os sapatos? São bonitos  ou feios?” Normalmente as senhoras se interessam por essas coisas.
Aliás, eu gostava de sapatos bem largos, e a única preocupação dela nessa matéria tão banal era que, sendo folgados demais, de repente me causassem um tombo. Então ela sempre dizia:
— O sapato não é largo demais?
Eu sorria e respondia:
— Para meu gosto não, para o seu é.
— Olha, filhão, você toma um tombo... — Reze por mim — e encerrava o assunto.

Continua no próximo post

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