quinta-feira, 12 de março de 2015

Exemplo de amor materno ( Cont )

Continuação do post anterior
Zelando pela honra dos filhos
Por experiência própria, ela sabia quanto a má saúde física faz sofrer a alma. E para evitar tais sofrimentos ela queria que fôssemos saudáveis. Mamãe contava, com todos os pormenores possíveis e como um drama, o perigo de vida pelo qual passei quando criança; ela ainda vivia aquele drama. Explicava como rezou e, depois de afastado o risco, como agradeceu.
Dona Lucilia tinha grande cuidado para que minha irmã e eu — por uma questão de honra em face de nós mesmos e também de Deus, não dos outros — fôssemos pessoas comme il faut, quer dizer, como se deve ser. Então, dentes, o asseio em geral, alguma preocupação de saúde, mas, sobretudo a noção de honra, que é uma idéia católica, e no tempo dos pais dela, era uma tradição. Por exemplo, na pintura representando a mãe dela, a idéia de honra da pessoa perante si mesma está presente, e também, de modo menos saliente, nas pessoas retratadas em outros quadros de nossa residência.
Há determinadas regras para que as pessoas se tornem dignas. Naturalmente ela cuidava de alguns aspectos disso com relação a minha irmã, segundo certo matiz; é a ordem das coisas. Comigo era de outro modo.
Mamãe acompanhava muito toda a minha vida, sabia onde e como eu estava, quais eram os meus horários de refeição, de saída, de chegada, entretanto sem ar de fiscalização, nem mesmo de vigilância, mas simplesmente com atenção. E atenção extrema, acompanhando certos pormenores, como, por exemplo, a roupa que eu trajava.
Síntese das tradições da família
Por alguns lados Dona Lucilia era uma síntese das tradições de sua família; por outros, um renouveau de uma série de coisas que, ao longo das gerações, foram sofrendo um processo de modernização e, portanto, se alterando. Em algumas matérias ela comunicava — para usar uma expressão atual — uma mensagem inteiramente diversa. Em outras refletia propriamente a tradição.
O essencial da nota que diferenciava mamãe das outras pessoas era o seguinte: a idéia da verdade absoluta, do bem absoluto, do eterno, imperecível, era muito mais tênue nos outros do que nela. De maneira que eles não se opunham, em princípio, a nenhuma modificação; iam sempre acompanhando numa linha conservadora. Enquanto ela, sendo o caso, reagia: “Isso não pode ser. Há aqui um princípio, um modo de ser, uma tradição imutável da qual não abro mão.”
Ela conservava as tradições católicas com muito mais fé do que seus antepassados. Não quero dizer que não possuíssem fé, mas não tinham a fé que ela possuía.
O afeto pelo filho vinha em larga medida por ver os lados bons de sua alma
O afeto dela para comigo vinha, evidentemente, pelo fato de ser minha mãe, mas, sobretudo, porque ela via muito bem os aspectos bons da minha alma.
Não se pode dizer que mamãe me queria “debandadamente”, pois a palavra “debandada” não tem a dignidade devida. Nela nada era debandado, embora pudesse ser com uma intensidade inteira.
Na época de mamãe, os homens eram avaliados muito mais pelo que eram do que pelo que faziam. Assim, pelo pouco que ela sabia que eu fazia, achava minha vida justificada. Em minha vida de lutas, algumas coisas ela não via, pois de modo mais consciente ou menos, tinha também a preocupação de não engrandecer o que era dela. Portanto, de não me considerar maior do que estava na proporção do universo que ela conhecia.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 14/3/81

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