segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A presença repousante de Dª Lucilia

Os encargos do escritório de advocacia somavam-se às diversas outras tarefas que Dr. Plinio já desempenhava. Com efeito, além de exercer o magistério e de ser diretor de uma imobiliária, entregara-se de alma inteira à atividade apostólica, que muito o absorvia.
A justa nomeada que alcançara como líder católico obrigava-o a comparecer a grande número de atos públicos nos meios religiosos, sendo com freqüência convidado a fazer discursos e conferências nos mais variados ambientes.
Apesar de tão intensos trabalhos, nunca saía de casa sem antes se despedir de Dª Lucilia e de lhe dizer aonde ia. Ela o abraçava, beijava e depois lhe dava a bênção. Certo dia, porém, Dª Lucilia notou que Dr. Plinio saíra sem dela se despedir. Apenas encontrou, em local visível, um bilhete, encimado por uma pequena cruz sob a qual se liam as iniciais do lema de Santo Inácio: Ad Majorem Dei Gloriam.
Mãezinha de meu coração, Há perto de três semanas, marquei para hoje à noite, às oito e meia, uma conferência na Escola Paulista de Medicina, na Vila Clementino.
Depois esqueci-me da data. Ontem me telefonaram lembrando. E eu lá vou com grande antecedência (...).
Por isto, meu amorzinho, lhe deixo mil e mil dos mais saudosos beijos, pedindo-lhe desculpas, e prometendo voltar logo que termine, para matar as saudades.
Em outro dia ocorreu o contrário. Dr. Plinio não aparecera de manhã, à hora habitual, para dizer a ela bom dia. O tempo passava e ele não dava qualquer sinal de vida. Dona Lucilia mandou a empregada verificar o que ocorria não demorou: a porta do quarto estava fechada e tudo permanecia em silêncio. Desta vez, não era nenhuma doença que o prostrara na cama, mas o cansaço por uma vida muito atarefada. Ela disse então à criada que batesse na porta e passasse por baixo um bilhete, que escreveu, com o seguinte apelo:
Plinio,
Você já perdeu a aula, vê se não perde também o emprego! Levanta-te já, peço-te.
Na verdade, a fadiga que alquebrava Dr. Plinio não era só, nem principalmente, fruto dos muitos trabalhos, mas sim das incontáveis batalhas em defesa da Fé. Porém, se o combate levado a cabo com entusiasmo lhe pesava nos ombros, a simples presença de sua mãe compensava tudo, constituindo um bálsamo de suavidade. Sentia-o de modo especial quando chegava a casa, vindo do escritório, ocasião em que lhe era mais patente o choque entre o frenesi da rua e as bênçãos do lar.
Passava Dª Lucilia boa parte do dia rezando ou lendo, sentada na cadeira de balanço outrora pertencente a Dª Gabriela. Ao seu redor se criava uma atmosfera de indizível tranquilidade, o oposto do mundo agitado e tormentoso que se movia fora de casa. Era como se uma campânula invisível, colocada por um anjo, protegesse aquele ambiente do conturbado torvelinho da vida. Quem nele penetrasse, sentia a alma pervadida pela paz. Uma paz mais repousante que duas ou três horas de descanso...

(Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias)

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