sábado, 25 de janeiro de 2014

Amor alicerçado na Fé

O oceano de benquerença de Dª Lucilia por seu catolicíssimo filho tinha suas mais profundas raízes firmadas na Fé. Era por ver em sua mãe um amor tão desinteressado e sublime à Igreja Católica que, instantes após a morte dela, Dr. Plinio, na câmara mortuária, fez esta impressionante afirmação:
“Eu a admirava muito mais por ela ser como era e pela virtude que nela discernia, do que por ser minha mãe. De tal modo que, se ela fosse mãe de outrem, e não minha, eu faria de tudo para ir morar junto a ela.”
Tais disposições de alma de Dr. Plinio, para as quais tanto contribuiu a formação dada por sua mãe, levaram-no, na longínqua década de 40, a fazer no Legionário a magnífica descrição de uma mãe católica. A cada passo desse artigo julgamos ver a figura nobre e serena de Dª Lucilia. Curiosamente, nessas comoventes linhas, nas quais transparece a admiração por insignes virtudes, refere-se Dr. Plinio à mãe de um outro...
A dama de cabeleira branca
Eu tinha diante de mim uma figura genuína de grande dama cristã. Em todo o seu ser, o tempo deixara a marca indefinível de fundas dores, sofridas com grande nobreza, com imensa suavidade de alma. Olhos calmos, belos e tristonhos, penetrantes mas doces, inteligentes mas serenos. O porte, o jeito, o traje tinha a elegância singela, nobre e despreocupada que a verdadeira educação comunica ao vestuário humano. O timbre de voz afável, reservado, cheio de matizes, revelava um coração a um tempo forte e delicado.
Pela janela entrava a jorros a claridade, que iluminava em certos momentos a cabeleira branca.
Um reflexo prateado, confundindo-se com a suavidade do olhar, se difundia então por sua fisionomia. Toda a luz faz pensar em felicidade. A luz destes cabelos brancos fazia pensar na felicidade extra-terrena. Era a grandeza da ancianidade cristã, santificada pelo mérito da maternidade, glorificada pela auréola discreta que os sofrimentos padecidos em união com Cristo deixam em toda alma e em todo semblante justo. Muita dignidade, certa majestade diríamos mesmo. Não a majestade árdua, esforçada e duvidosa do dinheiro, mas a majestade única e suprema que decorre da dignidade de mãe, sentida e vivida até as últimas fibras de um coração nascido de nobre estirpe.
Preciso dizer que a contemplação do que essa dama sofria, de quanto ela sofria, de como ela sofria, edificou-me, enlevou-me, encheu-me de veneração? Nunca vi mãe que oferecesse seu filho [a Deus] com espírito mais sobrenatural, embora com tão sentida dor. Fora, a grande metrópole vivia, suava e muitos pecavam. De mim para mim, pensei no valor expiatório deste sereno sacrifício. Os instantes que passei naquele apartamento foram inesquecíveis para mim.
Quantas vezes pensei depois disto, nesta genuína e grande dama cristã. E que especial inflexão de alegria teve o meu “Magnificat”, quando me lembrei do júbilo que naquele momento lhe deveria inundar o coração.
Perdoe-me ela se levantei indiscretamente o véu de seu recolhimento2.
De uma mesma ogiva, dois arcos que se completam
Tal como a dama cristã descrita por Dr. Plinio, Dª Lucilia, antes mesmo de seus filhos nascerem, generosamente os consagrara a Deus. Talvez tenha renovado seu oferecimento ao apresentá-los à fonte batismal, a fim de introduzi-los no seio da Igreja. Depois os levara a dar os primeiros passos nos caminhos da Fé e lhes ensinara a pronunciar, antes de qualquer outra palavra, os Santíssimos Nomes de Jesus e Maria. Com seu exemplo, incentivara-os a praticar as virtudes que ela mesma lhes fizera conhecer através de narrações da História Sagrada.
Tendo Dr. Plinio, ao entrar para o Colégio São Luís, de enfrentar pela primeira vez o rijo embate da vida, Dª Lucilia o sustentara na fidelidade. A firmeza dela lhe servira de estandarte no decurso de incontáveis pugnas na Faculdade de Direito.
Já no Movimento Católico, Dr. Plinio fora penetrando ainda mais a fundo no conhecimento da doutrina e da História da Igreja. Chegara então para ele a vez de tomar respeitosamente pela mão a sua mãe e comunicar-lhe muito do que ele ia aprendendo de maravilhoso na Santa Igreja. Assim, um e outro, cada qual a seu turno, foram-se impregnando a fundo do espírito católico.
Essa catolicidade se refletia naturalmente na vida de oração de ambos, marcando de forma notável aquele recolhido e elevado ambiente do apartamento da Rua Alagoas. As preces do indômito batalhador, principal arma de todas as pugnas que travava, apoiadas pelas serenas mas intensas súplicas de sua mãe, subiam ao trono do Altíssimo a implorar graças especiais pela causa da Santa Igreja.
Nesses atos de piedade, enquanto Dª Lucilia se inclinava mais aos acordes da misericórdia, Dr. Plinio fixava suas intenções nas lides apostólicas. Esse convívio, ungido pelo silencioso fervor da mãe e do filho, constituía assim uma harmoniosa ogiva, em que um braço completava e apoiava o outro.

Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons.João S. Clá Dias

Nenhum comentário:

Postar um comentário