quarta-feira, 2 de abril de 2014

“Se soubesses como fica triste a vida quando viajas para tão longe...”

No dia 21 de outubro, Dª Rosée enviava a Dr. Plinio nova carta, com mais alguns detalhes sobre o dia-a-dia de Dona Lucilia:
Ontem foi dia de festa porque Mamãe e eu recebemos suas cartas. Nem posso te dizer a alegria que sentimos. (...)
Mamãe está ótima. A Olga e a Carlota fazem “puzzle” com ela à noite, e tem tido muitas visitas. Já mandei vir duas vezes a preciosa Sinhá. O Brickman achou-a muito bem. Em casa estão só a Olga e a Carlota. Como esta última tem mania de limpeza e é muito ativa, a coisa vai bem.
A “preciosa Sinhá” era prima de Dª Lucilia. Ambas mantiveram estreitas relações a vida inteira, só interrompidas pela morte. Era das poucas pessoas que restavam dos antigos tempos, pelo que reinava entre ambas grande afinidade.
Levada por seu amor à Santa Igreja e pelo desejo de acompanhar em espírito seu filhão, Dª Lucilia conservava as vistas voltadas para Roma, procurando discernir o que se passava no Concílio.
São Paulo, 23-10-1962
Filho tão querido de meu coração!
Já recebeste a [carta] de Rosée? Ela e Maria Alice têm vindo todos os dias. Rosée veio ontem, e hoje o tempo está péssimo... tão frio, chuvoso, que enregela principalmente aos velhos reumáticos nos “pulsos” como eu!
Se soubesses como fica triste a vida quando viajas para tão longe!!! É verdade que têm vindo os meus parentes me visitar, menos Yayá, Dora, Gizela que estão no Rio.
Pensa bem no que te digo.... cuidado, muito cuidado com o teu apetite... se ficas doente, como vais fazer? Perdes o fim do “célebre Concílio”, bonitos passeios, etc!
Saudosíssima, peço a Deus e a Nossa Senhora para que te protejam e abençoem, e envio-te mil beijos e abraços de tua... manguinha...
Lucilia
É edificante observar nas cartas de Dª Lucilia como ela fala muito pouco de seus problemas pessoais. Quando o faz, é para satisfazer os insistentes pedidos de seu filho.
Por outro lado, tendo ficado muito só, em nenhum momento se queixa desse fato, pois sabe que a viagem de Dr. Plinio é feita para atender aos interesses da Igreja. Razão largamente suficiente para justificar tamanho sacrifício, que ela estaria disposta a repetir quantas vezes fosse necessário. Depois do bem da Causa Católica, sua primordial preocupação é o bem de seu filho, como se pode ver mais uma vez na carta seguinte em que, por distração, ela escreve “Congresso” em vez de “Concílio”...
São Paulo, 26-10-1962
Filho querido de meu coração!
Espero que já tenhas recebido duas cartas minhas; hoje mais esta. Recebi também uma tua, de Roma. Imagino o quanto deves estar apreciando esta bela morada dos Papas, e ainda mais, tudo isso em companhia de teus bons e caros amigos; só me faz pena de ver os que não puderam ir! Sempre que pode, manda-me notícias tuas... — os jornais não dão notícias que satisfaçam!
Esteve aqui o Castilho para fazer-me uma visita.
Francisco Eduardo me pediu um terço, para rezar nele todos os dias. Diz o Castilho que é muito fácil encontrar aí, terços muito bons e fortes.
Não me habituo a escrever com as canetas que temos aqui.
Quando acabará o Congresso? Quando pensas poder voltar? Sou eu quem te diz... deixa tanto trabalho, passeie bastante, coma bastante, mas sem exagero, vejam a catedral de Milão, que é uma beleza, e os inúmeros quadros de Florença, revejam Paris, e voltem logo, pois estou com umas saudades loucas do meu “caro”, caríssimo Filhão, de todo o meu coração!
Com muitos beijos, abraços e toda a sua bênção, de tua... “manguinha”...
Lucilia
Tal é o esquecimento de si própria que Dª Lucilia apenas se lembra de pedir um terço para o bisneto, Francisco Eduardo. Embora não o diga, talvez tenha sido ela que ensinou o menino a rezar o Rosário, explicando-lhe na sua maneira tão atraente os vários mistérios da vida de Nosso Senhor e de sua Mãe Virginal. Certa de que um objeto de piedade vindo da Cidade Eterna o incentivaria mais à devoção, pede-o a Dr. Plinio.

(Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João Clá Dias)

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