quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Estimular a inocência

Dona Lucilia ensinava como prolongar a inocência dentro da maturidade, fazendo seus filhos compreenderem como a inocência não é apenas um estado de espírito de uma  criança, mas um programa de vida que, em  última análise, leva o homem a cumprir o primeiro mandamento da Lei  de Deus.
Fantasias de Carnaval que estimulavam a inocência
É interessante notar que os dias de Carnaval  ofereciam  a  mamãe  uma  oportunidade especial de estimular em  nós a inocência. Todas as crianças da família se fantasiavam, vestidas pelos  pais. E eu me deixava trajar como Dª  Lucilia quisesse, pois a vontade dela  era indiscutível para mim. Agora, um  detalhe: as fantasias que ela arranjava  sempre tendiam ao sério, ao contrário  de outras que exploravam o burlesco,  impelindo a criança a tomar atitudes  descompostas e apalhaçadas.
Lembro-me de certo ano em que  ela, nas suas delicadas concepções,  planejou para mim uma fantasia de  marajá.  Ignorando  as  características do personagem que eu iria adotar, logo quis saber do que se tratava,  e mamãe então me descreveu as belezas da Índia, com seus lindos palácios, suas riquezas e mistérios.
— Você, portanto, vai se fantasiar  de marajá! — disse-me ela, num tom que era um convite longínquo para a criança encarnar e viver o papel de  soberano hindu por alguns dias. Recordo que minha fantasia comportava um turbante feito de várias  sedas, ornado de uma bonita aigrette que acompanhava os meneios da  cabeça  e  me  dava  a  impressão  de  uma  espécie  de  sismógrafo  muito  nobre da alma humana. Além disso,  era presa ao turbante por uma grande pedra “preciosa”, e esse pormenor de uma “jóia” incrustada na testa, da qual se desprendia uma elegante pluma, parecia mais ou menos a profundidade do pensamento  da qual se destacava uma construção alígera...
O  resto  da  roupa  era  igualmente de seda, guarnecida de jóias falsas,  anéis,  colares,  etc.  Os  sapatos,  com as pontas voltadas para cima e  revestidos de cetim lilás, pareceram-me  particularmente  graciosos,  pois  achei muito feliz a ideia de calçados  que  se  erguiam  da  vulgaridade  do  chão, como se o seu usuário dissesse: “Eu toco no solo, mas o melhor  de mim mesmo se faz alheio à poeira. Por isso viro a ponta para cima.”
Assim como com as fantasias de  outros Carnavais, essa do marajá era  preparada  no  clima  criado  por  Dª  Lucilia,  falando-me  com  seriedade  acerca do personagem que eu iria representar, e imaginando uma vestimenta que, conforme os padrões e as  posses dela, deveria ficar seriamente bonita. Quer dizer, com inocência  e seriedade, ela tinha empenho em que eu me apresentasse bem.  

(Plinio Correa de Oliveira –  Extraído de conferência em 12/6/1982)

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