sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Um grande Sinal da Cruz antes de partir

Continuação do post anterior
Eu formara a ideia de que seria melhor, nas minhas condições, que mamãe não morresse durante a noite, pois a dificuldade de me locomover, somada a outros incômodos, não me possibilitariam de dar-lhe toda a assistência que eu gostaria de oferecer a ela nesse supremo momento. Quisera, antes, que fosse de manhã, depois de eu ter dado as orientações necessárias ao desenvolvimento do nosso apostolado naquele dia, e assim, poder estar ao lado dela quando Deus a chamasse a Si. Contudo, não imaginei que esse passamento se desse tão logo.
No dia seguinte, 21 de abril, acordei e perguntei por mamãe. Disseram-me que o estado dela permanecera mais ou menos o mesmo. Trouxeram-me o lanche da manhã e o jornal. Ora, mal acabara de lê-lo, o médico que a assistia entra no meu quarto e me diz: “Dr. Plinio, venha depressa. Dona Lucilia está morrendo!”
Tão rápido quanto me era possível naquelas condições eu me dirigi ao quarto dela, e assim que entrei, o médico me disse: “Ela já morreu”. Contou-me, então, que a respiração de mamãe tornara-se cada vez mais ofegante, mas ela não quis me chamar. Quando ele percebeu que eram seus últimos instantes, foi me avisar e, ao voltar, a viu fazer um grande Nome do Padre e, em seguida, estender as mãos ao longo do corpo. Entregara sua alma a Deus.
Tristeza envolta em suavidade
Apesar dos meus 60 anos, à vista de mamãe morta, chorei copiosamente, e em altos soluços, entremeados com frases de gratidão e de amor para com ela. Na desolação profunda em que me encontrava, repetia que ela era a luz dos meus olhos, o que havia de mais precioso para mim na vida. Lamentei não ter podido vê-la no derradeiro momento, e rezei muito por sua alma.
Depois disso, era preciso que eu me aprontasse, e dei as recomendações necessárias para se preparar o velório e o sepultamento. Curiosamente, enquanto fazia minha toilette, não obstante a imensa tristeza que me confrangia, senti-me tomado de uma tranquilidade suave e distendida, de maneira que o peso trágico do fato deixou de acabrunhar a minha alma. Assim me foi possível estar o tempo inteiro ao lado do corpo de mamãe, até a hora em que seria levado para o cemitério.
Era minha intenção acompanhá-la até à beira da sepultura. Porém, a ferida cirúrgica no meu pé ainda não estava inteiramente cicatrizada, de um lado; de outro, era-me muito penoso vê-la pela última vez no caixão, e este em seguida ser depositado no fundo da cova, coberto de terra... Não tive coragem. Permaneci no meu automóvel, à porta do cemitério.
No restante do dia passei recebendo os cumprimentos de parentes e amigos. Na manhã seguinte, atendendo aos conselhos dos médicos que cuidavam de minha recuperação, dirigi-me a uma fazenda que nosso movimento possuía no interior de São Paulo e ali fiquei até retornar para a Missa do Sétimo Dia de mamãe.
Um sorriso do Céu...
Uma última recordação. Como se sabe, segundo a doutrina católica, mesmo almas que praticaram a virtude neste mundo podem passar pelo Purgatório, a fim de se purificarem de alguma imperfeição. Se, conforme se lê em relatos de certas visões, até mesmo almas de grandes santos tiveram de pagar esse tributo, era natural que eu me perguntasse se a de mamãe não estaria ainda ali, purgando-se de qualquer defeito. Essa idéia me incomodava, e eu, com confiança na misericórdia divina, pedi a Nossa Senhora que me desse um sinal de que a alma de Dª Lucilia já estivesse na bem-aventurança eterna.
Com essa esperança, dirigi-me à Igreja de Santa Teresinha, no bairro de Higienópolis, onde seria celebrada a Missa do Sétimo Dia. Ocupei um lugar no primeiro banco, junto com pessoas de minha família, e notei que nos degraus do presbitério havia sido colocada uma mortalha feita de rosas vermelhas, tendo no entroncamento dos dois braços da cruz um lindo buquê de orquídeas.
Ora, no momento da Consagração, surpreendo-me com este fato extraordinário: pela fenda aberta num dos vitrais da igreja passou um raio de sol que incidiu exatamente sobre a cruz de rosas, deslocando-se de modo lento até se fixar no buquê de orquídeas. Mas, iluminou-o com tanta intensidade que a luz parecia penetrar as pétalas das flores e fazê-las refulgir por dentro.
Ao término da Consagração, o raio de luz deslizou em direção à porta oposta à sacristia e desapareceu. Porém, moveu-se de um tal jeito que me fez lembrar o andar de Dª Lucilia, e então me veio o pensamento, senão a certeza, de que aquele era o sinal que eu havia pedido: “ela está no Céu!” Essa ideia muito me consolou, e saí da igreja aliviado. Sem dúvida, podem as almas do Purgatório rezar pelas que estão na Terra. A de mamãe, se lá estivesse, estaria pedindo por mim. Mas, que alegria saber que ela já o fazia na visão beatífica, inundada daquela felicidade eterna que um dia, pela misericórdia de Nossa Senhora, nos inundará a todos nós!

Extraído de conferências em 11/1/1982 e 20/4/1991

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