domingo, 9 de setembro de 2012

BENQUERENÇA COROADA PELA FÉ CATÓLICA

Em nosso post nos foi dado considerar como Dª Lucilia, em relação às diversas necessidades de seus filhos — máxime quando se achavam enfermos — desdobrava-se em zeloso carinho e notável abnegação. Tais qualidades se mostravam heróicas durante as doenças e indisposições que ela mesma sofria. O episódio a seguir servirá de exemplo.
Querer bem, até o fim!
Certa ocasião, tendo ido a um dentista cujo consultório ficava num desses prédios antigos, sem elevador, Dª Lucilia, ao descer a escada, pisou em falso e escorregou. Para evitar a queda, agarrou-se ao corrimão, num movimento forçado, deslocando um dos braços à altura do ombro.
A dor agudíssima, provocada pelo acidente, quase a fez perder os sentidos. Os circunstantes socorreram-na imediatamente, levando-a a um médico. Entretanto, passada a ação do clorofórmio com que a tinham adormecido, voltaram as dores pro duzidas pela distensão de ligamentos, acrescidas do forte incômodo próprio ao efeito do anestésico. Tornou-se por isso necessário transportá-la de ambulância para casa, onde já tudo estava preparado para recebê-la.
Tratava-se agora de avisar convenientemente as crianças, para não se impressionarem muito. Bem podemos calcular a aflição que delas se apoderou, ao saberem haver Dª Lucilia sofrido um sério acidente. Talvez alguma delas, ignorando o alcance do acontecimento, até pensasse que sua mãe iria morrer. Impressão certamente reforçada ao vêla chegar numa padiola, gemendo e pálida como um cadáver. As crianças aproximaram-se da porta do quarto, cheias de espanto, para ver como ela estava passando. No entanto, os mais velhos da família impediram-nas de entrar, a fim de não atrapalharem, involuntariamente, a acomodação de Dª Lucilia na cama, o que não se fez sem muito sofrimento para ela.
Quando se encontrava perfeitamente instalada, chamaram os filhos, recomendando- lhes não fazer barulho nem tocar no braço acidentado.
No aposento da mãe, apenas iluminado por uma fraca luz, os pequenos ficaram vivamente impressionados ao verem Dª Lucilia prostrada na cama, gemendo baixinho, com o braço todo enfaixado. Era algo de terrível para eles, pois nunca tinham visto alguém naquela situação. Ela, imersa em dor, não os vira entrar e continuava de olhos cerrados. Plinio, com a alma cortada de angústia, dela se aproximou, pé ante pé, e sem dizer palavra deu-lhe um beijo. Dª Lucilia não abriu sequer os olhos, mas percebeu de quem se tratava e perguntou quase num sussurro:
— Meu filho, é você?
Ao que ele respondeu, mais sossegado, ouvindo a voz de sua querida mãe:
— Mãezinha, sou eu.
Dª Lucilia, então, do fundo de seu lancinante padecimento, lembrou-se de que Plinio precisava de certos cuidados e, num extremo de abnegação vinda do mais íntimo da alma, lhe perguntou:
— Meu filho, você está tomando o remédio para seu defluxo, direitinho?
É natural que seus filhos, percebendo na mãe tanto esquecimento de si, tenham-se afeiçoado a ela ainda mais. Ao sair do quarto, ficara-lhes para sempre gravada no espírito a lição desse belo gesto. Querer bem até o fim é isto!

(Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)

Nenhum comentário:

Postar um comentário