sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Preparando os filhos para a Primeira comunhão


Os anos passavam, as crianças cresciam, era chegada a hora de fazerem a Primeira Comunhão. O ambiente de autêntica piedade e ardente Fé que Dona Lucilia criava em casa era sem dúvida a melhor preparação. Além disso, sua transbordante benevolência ajudava os meninos a compreenderem que, acima dela, Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo derramado até a última gota de seu Preciosíssimo Sangue pela salvação das almas queria-lhes infinitamente mais que sua própria mãe.
A partir do momento em que lhes falara da Primeira Comunhão, ela dera uma alta ideia da grandeza desse augusto ato. Conseguira também que o vigário da Paróquia de Santa Cecília desse a Rosée e a Plinio, como também a Ilka, um curso de catecismo.
Com o passar dos dias, Dona Lucilia notou estarem as crianças tirando muito proveito das aulas. Sumamente comprazida, ela lhes dava algumas explicações e os arguia sobre certos pontos. Narrava também trechos da História Sagrada, de maneira tão elevada e entretida, e com tanta unção, que lhes incutia grande respeito pelos personagens bíblicos.
Imaginava um pouco lendariamente a Palestina. Por exemplo, descrevia as areias dos desertos da Terra Santa, marcadas por sublimes recordações. O modo de ela pronunciar certos nomes: “Mar de Tiberíades...” dava, a quem ouvia, a impressão de estar vendo as ondinhas do mar e nelas se refletindo a figura do Salvador.
Falava muito da doçura de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. As ações d’Ele eram mostradas como sempre serenas e medidas, cheias de significado, de uma sabedoria que transcendia de longe a tudo quanto há no mundo; as atitudes d’Ele, como expressões de suma majestade e superioridade absoluta. A Santíssima Virgem, Dona Lucilia a apresentava como afável, bondosa e transbordante de carinho.
Os profetas do Antigo Testamento, nos lábios dela, apareciam grandiosos e categóricos. Dr. Plinio conta que, ao ver pela primeira vez os profetas do Aleijadinho, lembrou-se logo de Dona Lucilia e pensou: “Estes são bem os profetas que eu imaginava quando mamãe me falava deles”’.
As Narrações da História Sagrada
Qualquer episódio narrado por Dona Lucilia tomava um colorido comovedor, sabendo ela realçar o aspectos mais impressionantes. Ouçamo-la contar, adaptado às crianças, o ocorrido com a casta Suzana, no Antigo Testamento1:
Suzana era mulher casada, formosíssima e temente a Deus. Um dia, quando se encontrava no jardim de sua casa, foi vista por dois iníquos anciãos, que por sinal eram juízes. Invejosos por tão bela dama não lhes pertencer como esposa, quiseram forçá-la a enganar o marido, ameaçando caluniá-la, caso não cedesse.
Suzana, tomada por grande aflição, preferiu não ofender a Deus e enfrentar a calúnia. Os dois perversos juízes a acusaram, logo em seguida, diante das autoridades, de ter sido infiel ao esposo; e em virtude desse falso testemunho, ela foi condenada à morte, pelo lento e terrível suplício da lapidação.
Dona Lucilia repetia então a oração de Suzana: «Deus eterno, que penetras as coisas escondidas, que conheces todas as coisas ainda antes que elas aconteçam, Tu sabes que eles levantaram contra mim um falso testemunho; e eis que morro sem ter feito nada do que eles inventaram, maliciosamente contra mim”.
Quando a conduziam ao suplício, o Senhor suscitou o espírito de profecia num menino chamado Daniel, que gritou em alta voz: “Eu estou inocente do sangue dessa mulher”. Tendo o povo lhe perguntado o que queria dizer aquilo, ele se pôs de pé no meio de todos e disse: “Julgai-a de novo, porque disseram um falso testemunho contra ela”.
Daniel, interrogando diante de todo o povo os dois juízes separados um do outro, fê-los cair em contradição, tornando patente a calúnia. E os dois criminosos foram mortos, recebendo o castigo que tentaram desferir contra uma inocente. Deus ouvira a oração da casta Suzana”.
A narração serena, grave e cheia de atração cativava os pequenos ouvintes, fazendo-lhes penetrar na alma não só a admiração pelo verdadeiro, pelo bom e pelo belo, mas também a repulsa ao mal.
1 Cfr. Dan 13.
Quero que não estejam pensando em festa...”
Chegou afinal o dia máximo para Rosée, Plinio e Ilka. Naquela época era hábito as famílias darem uma grande festa para as crianças que pela primeira vez se aproximavam da Sagrada Mesa, convidando filhos de parentes e amigos. Dona Lucilia, pelo contrário, chamou os seus e lhes disse:
— Meus filhos, a Sagrada Comunhão é o mais importante acontecimento na vida, após o Batismo. Por isso, não é conveniente que nesse dia estejam pensando, desde a manhã, principalmente na festa, pois desvia a atenção da Eucaristia.
E transferiu as comemorações sociais dessa grande data para o dia seguinte, a fim de as crianças se compenetrarem bem da excelência do ato e, assim, não lhes ser perturbado o recolhimento interior. Pelo mesmo motivo, deixou-os até a noite com a roupa da Primeira Comunhão, a era, segundo os costumes do tempo, para o menino um Eton — traje inspirado no uniforme do famoso colégio inglês de mesmo nome — e para as meninas vestidos de noiva, pois Nosso Senhor Jesus Cristo é o Divino Esposo das almas virgens.
Não é de admirar que Dr. Plinio, ao se recordar do momento, bendito entre todos, no qual recebeu pela primeira vez o Divino Redentor, comentasse:
“Mamãe foi a luz da preparação de minha Primeira Comunhão.”
* * *

Dona Lucilia verá seus filhos irem deixando a infância, fortalecidos agora pelo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sua atenção estará voltada especialmente para Plinio, que ingressará no Colégio São Luís, dos Padres Jesuítas, onde terá seu primeiro contato com o mundo, longe de sua mãe. Que efeito terão sobre ele as companhias, nem sempre boas, que inevitavelmente se encontram fora do ambiente familiar?
Carregado de tais cogitações, o maternal coração de Dona Lucilia se voltará, mais devoto ainda, para o Sagrado Coração de Jesus, cuja misericórdia jamais abandona a quem confiantemente Lhe pede proteção.

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