domingo, 15 de junho de 2014

Parecia que os biscoitos provinham do Paraíso...

Continuação do post anterior
Antes mesmo de a empregada pôr a mesa, Dª Lucilia convidava o interlocutor a se acomodar:
— Por favor, sente-se onde for mais de seu agrado.
Em geral, depois de explicar por que seu filho demoraria em atender, ela prosseguia a conversa relatando a origem dos excelentes biscoitos que desejava oferecer ao visitante.
— O senhor sabe? Todas as quintas-feiras meu sobrinho vai a Campinas. E, certa vez, retornando de lá, teve a gentileza de me trazer uns biscoitos. Ao agradecer, eu disse que os tinha achado muito saborosos e que ficara contente com o gesto dele. Depois disso, ele sempre me traz uma quantidade suficiente para a semana inteira. O senhor vai gostar muito deles porque são realmente deliciosos.
A maneira como contava este pequeno episódio da vida doméstica envolvia o interlocutor numa atmosfera de maravilhoso, por onde se tinha a impressão de que a farinha do biscoito viera do Paraíso e fora moída pelos Anjos... Era de notar o desapego com que ela oferecia os biscoitos: sem egoísmos nem receio de que pudessem vir a faltar-lhe.
Conduzia a conversa com uma singela e encantadora gentileza. Do cimo de seus 91 anos, não procurava falar de si mesma, de suas dificuldades passadas ou presentes. Havia um certo momento em que ela fazia uma sugestiva pausa, muito nobre, muito distinta, dando oportunidade à pessoa que diante dela se encontrava de levantar algum tema, pois estava sempre disposta a conversar a respeito do que o outro quisesse. Era uma excelente ocasião para se apreciar o modo harmonioso com que ela abordava os assuntos. Fazia-o de maneira a atender, acima de tudo, aos legítimos anseios do visitante.
Naquelas ditosas e inesquecíveis conversas com Dª Lucilia, era freqüente o visitante perguntar-lhe algo a respeito de seus filhos, pelo extremo gosto de ouvi-la discorrer sobre acontecimentos da vida familiar. Tema, aliás, não lhe fosse proposto, ela jamais tomaria a iniciativa de sequer insinuar.
Saudosos meses aqueles, durante os quais foi possível conhecer um bom número de fatos da longa existência de Dª Lucilia, narrados diretamente por ela. O que mais atraía o interlocutor eram os detalhes da infância dos filhos dela, pois permitiam aquilatar o grande esmero que ela pusera em os educar e formar.

Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João Clá Dias

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