domingo, 8 de junho de 2014

Senso de responsabilidade

Continuação do post anterior
Logo ao iniciar-se a convalescença de Dr. Plinio, um de seus jovens discípulos teve a felicidade de ser escolhido para cuidar do plantão estabelecido no “1º Andar”. Um dia, acabara ele de atender a uma chamada telefônica, quando ouviu, vindo da sala de jantar, o som de uma sineta.
Pouco depois lhe chegavam os ecos de um pequeno diálogo entre Dª Lucilia e a empregada:
— Pois não, a senhora me chamou?
— Quem telefonou?
— Não sei, Dª Lucilia. Foi um senhor que atendeu.
— Quem é esse senhor?
— Não sei. Parece que ele veio visitar o Dr. Plinio.
— Vá preparando um chá para esse senhor e para mim, pois vou convidá-lo a estar em minha companhia até o Dr. Plinio despertar.
Tendo-se retirado a empregada, Dª Lucilia continuou suas orações. Era compreensível que, sendo dona da casa e dotada de profundo senso de responsabilidade, se sentisse na obrigação de fazer sala aos que visitavam seu filho.
Algum tempo depois, voltou a soar a sineta e a empregada, ao assomar à porta, ouviu de Dª Lucilia:
— Você quer dizer a esse senhor que faça o favor de entrar?
Logo que ele se apresentou, Dª Lucilia o cumprimentou de maneira acolhedora, e assim introduziu a conversa:
— O senhor certamente está esperando o Plinio, não é? Eu queria dizer ao senhor o seguinte: ele tem uns amigos que o estimam muito e, às vezes, convidam-no para passarem juntos alguns dias numa fazenda, perto de Amparo. E o senhor sabe? Estando ali, o Plinio andava por um terreno irregular e muito pedregoso, quando torceu o pé. Ele foi socorrido pelos amigos, mas os médicos que depois o examinaram recomendaram-lhe muito descanso...
Após essa explicação, Dª Lucilia, com sua arte de colocar o visitante inteiramente à vontade, prosseguiu:
— Por esse motivo, o Plinio vai demorar ainda um pouco para atendê-lo, de maneira que o senhor vai ter de esperar mais do que imaginava... Mas o senhor, enquanto o aguarda, vai me dar o prazer de sua companhia. O senhor aceitaria tomar chá?
— Por favor, a senhora não se deve preocupar!
— Talvez o senhor não goste de chá e prefira café com leite, ou alguma outra coisa...
Não foi possível ao jovem recusar. Dona Lucilia tocou então a sineta e ordenou à empregada que trouxesse chá e biscoitos.

Esta cena — evocativa da antiga douceur de vivre — doravante irá repetir-se todos os dias. Dona Lucilia empregará, de cada vez, aquele seu invariável e delicado modo de acolher.

Nenhum comentário:

Postar um comentário